Vai
entrar 2012, de modo que ficam aqui os 12 conselhos a seguir durante e após as
12 badaladas, garantindo assim o máximo êxito dos 12 meses que se avizinham!
1. Fazer (muito) barulho
Um
dos rituais consiste em acordar quem está a dormir nos antípodas com a
“panelagem” toda a fazer barulho, muito barulho! Assim, se se quer um ano muito
venturoso um dos segredos será sacar dos testos e das panelas até as furar com
tanta pancada. No meu caso, como tinha caçadores na família, após a meia-noite
seguiam-se minutos de absoluto terror para mim com o meu tio a dar tiros para o ar nas traseiras da casa,
fazendo lembrar clãs muçulmanos no dia do casamento da filha de 12 anos.
2. Usar roupa interior nova e colorida
Fruto
de uma crença que vem, não se sabe bem de onde, acreditamos com todas as nossas
forcinhas que o destino que o ano vindouro nos oferece é directamente
proporcional à cor da roupa interior que envergamos na noite e no dia da
transição. Tradicionalmente, em Portugal, as lojas escoam todo o stock da bela
da cueca azul por alturas do final do ano. Mas aqui há uns anos introduzi uma
adaptação a este ritual. Era dia 31 e estava em Espanha, mais propriamente numa
loja asiática, desesperada por encontrar um exemplar azul, quando o empregado
mostrou todo o seu contido espanto, típico dos povos daquela geografia, no
momento em que 10 portugueses lhe perguntaram por cuecas azuis. Ao que parece,
os “nuestros hermanos” usam roupa interior nova, sim, mas encarnada na
“nochevieja”. E nós não nos ficamos por menos: levamos umas vermelhas (para
usar na noite) e umas azuis (para usar no dia), na esperança de duplicarmos a
nossa sorte. E como o senhor não estava preparado para esta demanda cromática,
houve quem, do sexo masculino, tivesse que levar, ao invés do boxer, o fio
dental vermelhusco!
3. Tomar um banho gelado
Quanto
a este costume só posso agradecer ao Jesus e dizer bem alto: “Deus conserve intacto o meu bom senso!”. Por muita coragem e sorte que precisemos para
encarar as medidas de austeridade com que, quase diariamente, o nosso governo
nos presenteia, não correm nestas veias quentes bravura suficiente para
mergulhar a falta de fé nas águas gélidas do nosso oceano. Mas para quem a
tiver, ou estiver muito desesperado, ou ainda para quem não encontrou melhor
forma de curar a ressaca da noite anterior antes do cabritinho assado em casa
dos pais, deixo aqui os meus mais sinceros e orgulhosos parabéns!
4. Usar lençóis novos
Sinónimo de ponto de viragem na vida
(não de 360º, espero eu), comprar uns lençóis novos pode ser uma boa
estratégia! Também pode ser um bom pretexto para alguns que, pela primeira vez
em 12 anos de casamento, podem escolher a sua própria roupa de cama - que, até à
data, foi sempre comprada por sogras e por tias afastadas por alturas de Natal
e aniversário, com incontornavelmente diferentes pontos de vista sobre rendas,
estopas e cornucópias.
5. Deitar fora objectos velhos
E porque não pegar nos lençóis antigos,
nas roupas que usávamos quando tínhamos 20 anos (e que nunca mais nos vai
servir, nem que cumpramos com o máximo afinco este protocolo de 12 regras), e
nos extractos bancários de há 10 anos atrás (que não trazem outra coisa que não
seja sofrimento) e não fazemos uma grande fogueira? Pelo menos poupamos no
aquecimento… Já estamos a ganhar qualquer coisinha, não vos parece?
6. Vestir roupa de cor
O branco simboliza a paz e o equilíbrio,
que são duas coisas que fazem falta a muito boa gente que conheço. Mas as cores
não ficam por aqui. Quem procura amor verdadeiro deverá vestir cor-de-rosa e se
se procura uma paixão ardente, a opção recairá sobre o vermelho. O amarelo está
relacionado com a riqueza em bens materiais, o verde com a saúde e o azul com a
limpeza (daí a cueca azul, porque os portugueses são muito limpinhos). Eu cá
vou usar preto, que para mim é sinónimo de esconder o pneumático indesejado – e
que bem que este talismã funciona!
7. Mezinhas, simpatias e afins
Se
fizerem uma pesquisa na net por “rituais de ano novo” num instante têm ao
alcance dos vossos olhinhos um sem fim de “simpatias” que prometem amor,
dinheiro, sucesso e cura para a unha encravada. Algumas envolvem a queima de
substâncias naturais em casa, acompanhadas de frases proferidas em voz muito
alta e de danças pouco convencionais, pelo que será recomendável avisar os
vizinhos ou esperar que estes saiam de casa, não comprometendo, assim, a ideia que eles
têm da nossa saúde mental.
8. Fazer um brinde
Não
se trata de beber para esquecer, nada disso, nem quero que, com estas minhas
palavras, alguém fique em casa no dia 2 de Janeiro por extrema desidratação
provocada por excesso de álcool. Há que brindar ao novo ano que aí vem que em
tudo será grande: brindar ao incremento da taxa de desemprego, brindar ao
aumento do número de horas de trabalho e brindar ao acréscimo do IVA nos
produtos transformados e na restauração.
9. “Subir para cima” de uma cadeira
Sim,
meus caros, este pleonasmo foi intencional. Na hora de chamar a sorte para
jogar na nossa equipa, nenhum exagero é excessivo. Certifiquem-se apenas de que
o teor alcoólico não se incompatibiliza com esta peça de mobiliário (atenção
aos exageros do ponto anterior), evitando assim passar as primeiras horas do
ano numa sala de espera das urgências. Se bem executado, este gesto trará
melhorias significativas na nossa qualidade de vida, sobretudo se não tivermos
nenhuma perna engessada.
10. Entrar no ano novo com o pé direito
À semelhança da rotina anterior, entrar
com o pé direito no novo ano pode significar prosperidade. Para evitar
confusões, recomenda-se distinguir o pé direito com algum artefacto. Mas,
atenção, que este objecto seja discreto e pouco volumoso, não vá o diabo
tecê-las e provocar a queda durante o ritual descrito no ponto anterior. Nota:
resultados não comprovados em canhotos e disléxicos.
11. Ter dinheiro na mão
Eu
sei que para muitos pode ser difícil, nesta altura, chegar ao último dia do mês
e do ano e ainda ter notas no bolso. Mas descansem! Fiz uma pesquisa e segundo
o que consegui averiguar, o ritual pode ser substituído por atirar umas moedas
ao ar no momento da passagem do ano – e agora todas as três pessoas que lêem este blogue se dirigem
rapidamente ao espelho de água do shopping mais próximo para ver se encontram
alguma!
12. Comer 12 passas e fazer os 12 desejos
E
porque o mote é o número 12, remato com o mais popular de todos os rituais: comer
as 12 passas ao som das 12 badaladas, ao mesmo tempo que se pedem os 12 desejos.
Gostaria que no meu caso a coisa fosse um pouco mais simples, mas,
infelizmente, é tipo remédio para a tosse! Para começar detesto passas, pelo
que não as mastigo. Engulo-as de uma só assentada para minimizar o sofrimento
e, para que o faça rapidamente, bebo uma golada do tradicional espumante,
igualmente intragável para mim, mas que me permite não ficar com aquela papa na
boca, prestes a provocar movimentos expulsivos de suco gástrico. E depois vem o
pé direito, e subir para a cadeira e atirar as moedinhas ao ar… Irra!!! Com
esta titânica empreitada não sobra grande tempo para os 12 desejos que,
normalmente, se reduzem a um “que este ano seja ainda melhor que o anterior” e
a ”muita saudinha”: no meio de tanta repulsa e de tanto nervo lá ficam perdidos
os objectivos bem definidos que andei a estudar nos dias anteriores (porque,
para que as coisas aconteçam, temos que saber exactamente o que queremos).
Desta feita, parece que este ano não vou ficar magra, nem ser aumentada, nem
correr a meia maratona e muito menos tocar piano decentemente. Houve uma vez que
pedi à minha mãe para me comprar uvas de mesa para não começar o ano logo
agoniada, mas só havia daquelas com os bagos gigantescos (cujo termo mais
vernáculo não pode ser referido em horário nobre), de maneira que à terceira
uva que meti na boca deixei de conseguir mastigar, engasguei-me com o sumo e
passada meia hora ainda estava a tirar grainhas da boca… Resultado: tanta
azáfama, tanto preparativo e tanto sacrifício e... esqueci-me de pedir os
desejos!
Bem
caríssimos, com estas 12 me vou, senão ainda corro o risco de não conseguir
fazer nenhuma. Para o ano há mais, espero eu, pelo que, se for abençoada por um
momento de iluminação e articulação, reservarei um desejo para conseguir
escrever mais e melhor em 2012!!!
UM BOM ANO!!!
UM BOM ANO!!!