sexta-feira, 15 de abril de 2011

A… A… A… Atchim! Atchiiiiiiiiiiim!!!

Alegrem-se os Céus e a Terra porque chegou a Primavera! E é bom aproveitar bem isso porque a partir de 2015 ela terá um pouco menos de importância para os portugueses, já que a Resolução da Assembleia da República n.º 35/2008 prevê que, a partir dessa data, ai de quem se atrever a escrever o nome das estações do ano com letra maiúscula, porque esse gesto será subentendido como sacrilégio para quem legislou esta matéria! Mas isso são outros arrozes…

As últimas semanas têm sido cinzentas, sobretudo os últimos dias. Não é fácil adormecer, acordar e sonhar com a crise política, com a nuvem radioactiva e com a entrada do FMI, e é ainda menos suportável ir trabalhar a ouvir, de meia em meia hora, palavras como “eminência de despedimentos colectivos em todos os sectores”, “decréscimo da facturação” e “ausência de concretização de negócios”, entre uma enorme panóplia de vocábulos que, dedilhados ao som de um sentimento geral de desânimo, nos põem numa posição bem favorável a caminho do desemprego, do desespero, da desmotivação e de todos os outros "des"... Mas nada como um lindo dia de sol e portugueses a ganhar jogos nas competições europeias para sofrermos de uma amnésia temporária e pormos esses problemas para trás das costas. Aliás, problemas? Quais problemas?



Há umas semanas atrás chegou a Primavera "bela e amarela", ainda que de forma tímida e reservada. Consigo trouxe dois ou três dias de Verão que fizeram as pessoas tirar da naftalina os tops, os calções, as sandálias e os vernizes de cores quentes e fortes! Pareceu-me que algumas também conseguiram tirar do roupeiro alguma falta de bom senso. Mas, alto lá! Com isto não quero dizer que tenho alguma coisa contra as pessoas que, logo no primeiro dia quente do ano, vão à noite para o shopping de chinelito de dedo e calções de banho – gesto de libertação e resultado de 10 horas com os pés assados pelas botas de camurça e corpo ensopado pelas camisola de lã e sobretudos a fazer lembrar exércitos russos! E quem, como eu, tem a vantagem de ir a casa a meio do dia, tem também a hipótese de vestir algo mais leve e estival. E, claro, à medida que o final da jornada se aproxima, também regressam uns pés frios, uns arrepios desconfortáveis e uma vontade secreta de ter uma mantinha a cobrir as pernas porque “está um frio que não se aguenta só com esta camisolinha de algodão que nem os pulsos tapa” e “o que sabia mesmo bem agora era uns pauzitos a arder na minha lareira”. Mas é tão grande a vontade de fazer do Inverno história e tão vergonhosa a ideia de reconhecer que talvez ainda seja um pouco cedo para deixar as meias em casa que nem pensar em admitir isso em voz alta, perante quem quer que seja! Resta-nos cruzar os braços e tentar, pelo menos, que ninguém perceba pelas respostas naturais do nosso organismo, que estamos à beira de uma hipotermia...

Viva a Primavera e os carregamentos maciços de pólenes, poeiras e sementes que navegam pelo ar, ao sabor das nortadas matinais que anunciam tardes quentes e soalheiras. A… A… A… (silêncio) Aaaaatchim! Calma... Vêm sempre em par e um é mais lento! Atchiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiim! Pois bem! Já não tinha esta macedónia de sensações está para fazer um ano: os olhos permanentemente lacrimejantes, que impedem toda e qualquer tentativa de maquilhagem; arranhões e manchas provocados pelo intenso prurido na pele do rosto o que, sem o apoio da maquilhagem, me obriga a usar as unhas mais curtas do que um benfiquista em dia de jogo no Dragão (e que, ainda assim, me deixa a cara mais ou menos como ficaram as cadeiras da minha sala depois da chegada dos gémeos); a insistente impressão de que tenho uma formiga a percorrer vezes sem conta as minhas cavidades nasais; a desesperante comichão na garganta precisamente onde não consigo coçar sem que provoque o vómito; já para não falar do desejo ininterrupto de fazer uma imitação daquele anúncio em que a rapariga, no meio do primeiro encontro, simula a queda de um objecto ao chão para poder por termo àquela coceira na moleirinha que não a deixa apreciar convenientemente os atributos do jovem que está à sua frente.

Entretanto, os dias quentes tornam-se mais amiúdes e começamos a habituar-nos à ideia de que temos mesmo que guardar as camisolas de lã, as botas de cano alto e a roupa de cama hibernal (esta última parte é a que me está a custar mais e estou a ver Junho a entrar pela minha casa dentro e a ser recebido pelos lençóis polares em que estou tão viciada). Confesso que é de pôr os nervos em franja acordar de manhã, abrir o roupeiro e não apetecer vestir nada, mas não há melhor sensação do que ir ao baú e tirar de lá a bela da t-shirt rosa choque que tão bem ficará com as sandálias da mesma enérgica cor. Só há um pequeno problema: afinal o ano de 2011 não começou em Janeiro, nem em Fevereiro e, por isso, não se concretizou a sensação de dever cumprido das resoluções de Ano Novo. 2011 só começou em meados de Março, quando finalmente percebi que não é por respirar fundo e encolher a barriga que ela vai parecer menos proeminente e que se calhar até não seria mesmo má ideia passar um bocado de fome e transpirar uns litros de toxinas a ver se parte dessa camada adiposa, vulgo, odiosa, vai de férias… permanentes! 4 semanas volvidas, 45 litros de água com sabor a terra, 15 kilos de maça cozida, 400 toneladas de apetites por satisfazer  e 4 kilitos a menos e estou exactamente na mesma. A primavera deve-me estar a fazer mal e só devo ter emagrecido nos neurónios… Era bom que se começasse a ver alguma coisinha, senão, com o calor, sem nada que me sirva e juntando a crise que para aqui vai, a tendência desta estação, para mim, vai ser qualquer coisa deste género:


Já disse que adoro a Primavera?

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