As últimas semanas têm sido
cinzentas, sobretudo os últimos dias. Não é fácil adormecer, acordar e sonhar
com a crise política, com a nuvem radioactiva e com a entrada do FMI, e é ainda
menos suportável ir trabalhar a ouvir, de meia em meia hora, palavras como
“eminência de despedimentos colectivos em todos os sectores”, “decréscimo da
facturação” e “ausência de concretização de negócios”, entre uma enorme panóplia
de vocábulos que, dedilhados ao som de um sentimento geral de desânimo, nos
põem numa posição bem favorável a caminho do desemprego, do desespero, da desmotivação e de todos os outros "des"... Mas nada como um
lindo dia de sol e portugueses a ganhar jogos nas competições europeias para sofrermos de uma amnésia temporária e pormos esses problemas
para trás das costas. Aliás, problemas? Quais problemas?
Há umas semanas atrás chegou a Primavera "bela e
amarela", ainda que de forma tímida e reservada. Consigo trouxe dois ou três
dias de Verão que fizeram as pessoas tirar da naftalina os tops, os calções, as
sandálias e os vernizes de cores quentes e fortes! Pareceu-me que algumas também
conseguiram tirar do roupeiro alguma falta de bom senso. Mas, alto lá! Com isto
não quero dizer que tenho alguma coisa contra as pessoas que, logo no primeiro
dia quente do ano, vão à noite para o shopping de chinelito de dedo e calções
de banho – gesto de libertação e resultado de 10 horas com os pés assados pelas
botas de camurça e corpo ensopado pelas camisola de lã e sobretudos a fazer lembrar
exércitos russos! E quem, como eu, tem a vantagem de ir a casa a meio do dia,
tem também a hipótese de vestir algo mais leve e estival. E, claro, à medida
que o final da jornada se aproxima, também regressam uns pés frios, uns arrepios
desconfortáveis e uma vontade secreta de ter uma mantinha a cobrir as pernas
porque “está um frio que não se aguenta só com esta camisolinha de algodão que
nem os pulsos tapa” e “o que sabia mesmo bem agora era uns pauzitos a arder na
minha lareira”. Mas é tão grande a vontade de fazer do Inverno história e tão
vergonhosa a ideia de reconhecer que talvez ainda seja um pouco cedo para
deixar as meias em casa que nem pensar em admitir isso em voz alta, perante
quem quer que seja! Resta-nos cruzar os braços e tentar, pelo menos, que ninguém
perceba pelas respostas naturais do nosso organismo, que estamos à beira de uma
hipotermia...
Entretanto, os dias quentes
tornam-se mais amiúdes e começamos a habituar-nos à ideia de que temos mesmo
que guardar as camisolas de lã, as botas de cano alto e a roupa de cama hibernal
(esta última parte é a que me está a custar mais e estou a ver
Junho a entrar pela minha casa dentro e a ser recebido pelos lençóis polares em
que estou tão viciada). Confesso que é de pôr os nervos em franja acordar de
manhã, abrir o roupeiro e não apetecer vestir nada, mas não há melhor sensação
do que ir ao baú e tirar de lá a bela da t-shirt rosa choque que tão bem ficará
com as sandálias da mesma enérgica cor. Só há um pequeno problema: afinal o ano de 2011 não começou em Janeiro, nem em Fevereiro e, por isso, não se
concretizou a sensação de dever cumprido das resoluções de Ano Novo. 2011 só começou
em meados de Março, quando finalmente percebi que não é por respirar fundo e encolher a
barriga que ela vai parecer menos proeminente e que se calhar até não seria
mesmo má ideia passar um bocado de fome e transpirar uns litros de toxinas a
ver se parte dessa camada adiposa, vulgo, odiosa, vai de férias… permanentes! 4 semanas
volvidas, 45 litros de água com sabor a terra, 15 kilos de maça cozida, 400
toneladas de apetites por satisfazer e 4
kilitos a menos e estou exactamente na mesma. A primavera deve-me estar a fazer
mal e só devo ter emagrecido nos neurónios… Era bom que se começasse a ver alguma
coisinha, senão, com o calor, sem nada que me sirva e juntando a crise que para aqui vai, a tendência desta estação, para mim, vai ser qualquer coisa
deste género:
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