Sempre considerei que sou muito
mais do tipo que trabalha para viver, do que do tipo que vive para trabalhar. Por
isso mesmo, na minha opinião, as férias são uma das melhores invenções que Deus
permitiu que o Homem criasse (a seguir à Coca-Cola e às máquinas de lavar a
roupa). A verdade é que, independentemente do FMI, das condições meteorológicas,
das pandemias e dos conflitos políticos, o ser humano foi meticulosamente desenhado
para conseguir estar sempre apto a gozá-las (às férias, claro).
Resolvi aproveitar uma semana de
apenas 3 dias úteis para dar uma escapadela e qual a minha surpresa quando me
apercebi que, para visitar o destino que desejava, não havia vagas em nenhum
voo a partir de Portugal – não por serem poucos, muito pelo contrário, mas
antes porque meio país resolveu pensar da mesma maneira que eu. E estas coisas
deixam-me verdadeiramente “inchada” de tanto orgulho: pertencer a uma nação que
de tudo faz para ultrapassar a crise ou, pelo menos, ultrapassar a depressão e
a angústia acesas pela falta de dinheiro! Além disso, esta atitude, note-se,
revela também um altruísmo tão tipicamente português porque, ainda que o
desenvolvimento da nossa indústria hoteleira seja significativamente inferior
ao do dos nuestros hermanos, não nos
escusamos de continuar a contribuir para a franca expansão deste sector
espanhol! Mas como tristezas não pagam dívidas e, seguramente, estar aqui a
lamentar-me não irá, de modo algum, contribuir para o aumento da liquidez do
nosso Estado, avancemos porque estou de férias e o tempo é precioso!
Voltando ao mote desta publicação,
adoro férias, sejam elas para conhecer cidades novas ou para apanhar banhos de
sol, de mar e de areia. Por este motivo, gosto de iniciar com alguma
antecedência e preceito o ritual da preparação do acontecimento – além disso,
com um modelo de cabecinha de vento como esta que o meu pescoço sustenta, todo
o planeamento é indispensável.
O registo é recorrente: check
lists atrás de check-lists com versões datadas, revistas e actualizadas de
“vestuário”, “acessórios”, “medicamentos”, “produtos de higiene”, “artigos de
lazer” e “calçado”. Mas as listas não se limitam ao que se leva na bagagem e
seguem-se as “coisas a comprar”, “recados a deixar”, “contas a pagar” e outras
que tais, certificando-me, assim, que posso deixar o palácio sem estar de cinco
em cinco minutos a pensar se fechei a porta à chave, se pedi a alguém para
regar as plantas e se não deixei comida a decompor-se no frigorífico. Ora, como
estava tão difícil encontrar um sítio mais ou menos decente para molhar os
pezitos, a certeza em sair não era assim tanta pelo que, sob pena de agoirar a
ociosidade dos próximos dias, decidi protelar o procedimento preparativo até
que tivesse os bilhetes na mão.
Véspera de ir de férias e de meio
dia de trabalho. 22h00 e inicia-se o enchimento das maletas sem qualquer um dos
auxiliares de memória atrás mencionados. E porque os dias quentes são ainda
muito tímidos e escassos, as roupas de verão jazem adormecidas no baú desde o
Verão passado. Segue-se o processo crítico de seleccionar a roupa para levar.
Sem tempo para averiguar se os respectivos tamanhos se adequam à anatomia
actual e se as partes de cima combinam com as de baixo, amontoam-se duas pilhas
de peças que trazem à superfície as doces e calorosas recordações das últimas
situações em que foram envergadas. O mesmo se aplica ao calçado e, sem
estabelecer qualquer relação cromática com o vestuário escolhido, encho meia
mala com chinelas e sandálias (porque mais vale sobrar do que faltar) que irão
resultar na exposição de um corpo fluorescentemente branco e transparente. Oito
biquínis e meia dúzia de frascos depois, com a mala quase cheia e só faltam mesmo
os casacos. Casacos? Estarei a entrar em demência? Vai um casaquito preto que
dá bem com tudo e com a ajuda do Jesus e do S. Pedro, o calor há-de abundar.
Alto! Quase que falhava a coisa mais importante e indispensável de todas: o
protector solar “factor 50+ para peles sensíveis” porque, já que não consigo
ficar morena sem que isso acarrete noites passadas com toalhas húmidas a
hidratar e regularizar a temperatura do corpo, talvez se recomende levar de
volta o aspecto quase hepático característico da minha pele e protagonizado
pela pobreza de melanina que transporto – gesto altamente criticado pela minha
metade boa que, à semelhança de anos anteriores, atribuiu ao coitado do produto
a culpa por não ter ficado esturricado (mesmo após ter sido questionado se
queria que lhe comprasse um com menor factor de protecção, ao que respondeu
negativa e peremptoriamente, e mesmo que apenas o tenha aplicado no primeiro
dia).
Resultado:
- 50% do calçado não foi utilizado porque foram mais os pares do que os dias de férias;
- 40% das peças não foram vestidas porque não tiveram combinação possível com as partes de cima ou de baixo;
- 30% da roupa já não me servia - ou seja, 15% porque emagreci e me ficava grande :) e 15% porque achava que tinha perdido mais peso do que o real, pelo que me ficava pequena :( ;
- Levei um aglomerado imenso de tralha e no final quase que precisava de mandar lavar a roupa no hotel porque a efectivamente útil era insuficiente e com tanto calor era impossível de ser reutilizada;
- Apesar de ser usual levar o malote dos medicamentos capazes de curar desde a típica cefaleia até à unha encravada, passando pela inflamação da garganta, pela picadela de insectos e pela alergia aos raios solares, desta vez nem um único espécime de analgésico levei – atitude que se veio a revelar de extremo descuido e irresponsabilidade dada a incidência de situações enfermas, frequentes neste tipo de ocasiões;
- Inexplicavelmente, a minha mala pesava mais 2kg na viagem de volta do que de ida, ainda que não tenha trazido nada de lá e ainda que tenha gasto champôs, cremes, etc. (estranhos fenómenos acontecem).
Notas para o futuro:
- Voltar às check lists;
- Não esquecer medicamentos para a regulação da flora intestinal;
- Levar pelo menos um dos 5 frascos ricos em Aloe Vera que se foram acumulando em casa (porque, afinal de contas, eles são úteis é fora dela);
- E, a mais importante de todas, comprar uma mala mais pequena para fugir à tentação de levar tantas coisas desnecessárias!
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