quinta-feira, 21 de abril de 2011

A força de um "Dragounhe"!

Não sei se é por ser Páscoa e ser um período de introspecção e paz, se é por gostar muito da minha cara-metade, mas a verdade é que há já muito tempo que deixei de celebrar os golos do Fêquêpê contra o Benfica. Com o propósito de conter uma alegria exacerbada, abri o computador e comecei a escrever.

Faltam 30 minutos para o jogo da meia-final da Taça de Portugal  terminar e o resultado está 0-0. Cumprindo os votos que trocámos no dia em que nos tornámos Um-Só, achei que não só na alegria como também na tristeza deveria estar ao lado dele, neste caso concreto, à sua frente, a apoiá-lo. E bem que precisa de um amparo, já que decidiu assistir ao jogo num restaurante cheio de portistas, que de 2 em 2 minutos grita “é golo, é golo”, ainda que a bola vá no meio campo do Porto. Mas o espírito vencedor que se instalou em todos os portistas por estas alturas não fica por aqui. Mulheres de maquilhagem televisiva roem as suas unhas de gel e não olham a meios para encher a boca toda no momento de ofender a equipa adversária. O mesmo indivíduo que berra “é penalty”, sem que ninguém tenha marcado falta e com a bola ainda no meio campo, não se cansa de chamar “assassiiiiiiino” sempre que algum jogador da sua equipa de eleição sofre uma falta – e garanto que chega a um ponto em que, alguém como eu que está debruçada num computador minúsculo e vai olhando de soslaio para o grande ecrã do restaurante, mais parece estar numa batalha campal do que numa pizzaria onde as famílias costumam ir almoçar ao Domingo. São inacreditáveis as reacções a que se conseguem assistir quando observamos estas pessoas como se estivéssemos do outro lado do vidro.

O maridão, coitadito, não se manifesta. Combate os nervos como pode. Disfarça a desilusão como consegue. E no meio da selvajaria, que entretanto se instalou neste espaço, acho que já se deve ter arrependido uma série de vezes de ter resolvido assistir a mais uma derrota do glorioso no seio de tantos dragões. E os seus olhos, mais do que tudo o resto, denunciam a sua tristeza.

As blasfémias sucedem-se. Expressões nunca antes ouvidas ferem os meus ouvidos azuis (imagine-se o mal que isso deve fazer aos dele). Acho que a frase da noite, para além de todos os palavrões que se possa imaginar, foi “chupa, cão”, repetida vezes sem conta. Chupa, cão? Mas o que é isso, Senhor? Todas as faltas dão direito a cartão vermelho. Todos os remates conduzem à concretização, e valha-nos Deus se o árbitro pensasse como eles! O mais caricato é que estamos a falar de pessoas de um nível social, aparentemente, privilegiado que, ainda antes do jogo, falavam de estratégias financeiras e de benchmarking, e que num instante despiram os seus fatos de executivos bem sucedidos e assertivos e vestiram a pele de verdadeiros bichos, quase rasgaram as cordas vocais de tanto gritar e conseguiram contagiar toda a sala com este espírito grosseiro e rude - sinal verde para aqueles que, com o seu típico sotaque tripeiro, se estavam a conter para não libertarem tudo o que era costume dizerem em outros locais menos selectos e mais… arejados! Foram precisos somente breves segundos para que toda a gente da sala, excluindo a minha metade boa, uma discreta amiga do grupo animalesco e eu, desatasse a lançar “piropos” indecorosos ao árbitro, a saltar em cada momento de tensão do jogo, a trocar cachecóis, a abraçar-se, a partir copos com os gestos bruscos, a dançar e a celebrar os golos aos pinchos e aos berros.

Fica para a história da noite a celebração dos golos do Porto, no modo repeat como é habitual após a conclusão do jogo, como se fosse a primeira vez que estivessem a ver a jogada, como se o porto não tivesse ganho e como se disso dependessem as suas vidas. Fica para a memória também a frase que ouvi agora na mesa do lado, proferida ao empregado de mesa, chamado pelo cliente: Por favor, desligue a luz porque estamos habituados a celebrar às escuras.

Fim de jogo. Resultado: 3-1 para o Fêquêpê. A fera acalmou e voltou o sossego. Regressaram também as conversas racionais, os vocábulos amadurecidos e os assuntos que nos transportam imediatamente para a realidade que estávamos a viver ainda antes de ser dado o apito para o início da partida: “80 mil milhões de euros”, “A catástrofe instalada no país”, o “FMI” e a “banca nacional”.

Em todo o caso, "vamos lá cambada" tomar as devidas precauções para ver se não ficamos como o belo exemplo que se segue:

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segunda-feira, 18 de abril de 2011

Cristo Ressuscitou, Aleluia, Aleluia!

Finalmente chegou a Páscoa. Se eu mandasse, esta festa nunca iria surgir tão tardiamente no calendário, porque não faz sentido absolutamente nenhum vir o cabritinho assado e as amêndoas (ai, as amêndoas!) ao mesmo tempo que uma pessoa anda a fazer malabarismos para emagrecer uns quilinhos, dada a proximidade ao período da praia, de casórios, de comunhões, de baptizados e outros que tais, em que se exige um elevado nível de exposição corporal. É completamente impossível a compatibilização de 1,2Kg de maçã cozida, três dias por semana, com o folar e os ovos de chocolate. Muito má ideia a destes senhores, que criaram estes calendários que ninguém é capaz de compreender e de prever, devido à sua fórmula matemática praticamente indecifrável aos olhos do comum mortal. Com todo o respeito, mas… Tss, Tss, Tss (tentativa de simulação de estalidos de desilusão conseguidos por efeitos de sucção da língua no céu da boca).
http://mulhertrinta.blogspot.com/2011/04/feliz-pascoa.html

A minha Páscoa tem vários momentos: quatro, para ser mais precisa, todos eles recheados de instantes “apetitosos”, capazes de despertar o apetite a moribundos e anorécticos.

De há uns anos para cá, sem saber muito bem o motivo, resolvi, juntamente com alguns dos meus amigos, respeitar, com todo o rigor gastronómico que o acontecimento religioso exige, a 6ª Feira Santa. Nada de bifes; nada de carne assada; alheiras, nem vê-as; e carnes de caça, muito menos! Assim, sorrimos orgulhosamente para o empregado enquanto proferimos palavras que anunciam um jejum religioso, uma contenção alimentar e um extremoso respeito pelas tradições da quaresma “é um arrozinho de marisco, por favor, duas sapateiras para a entrada e, já agora, 1,5 kg de amêijoas “à bolhão pato” com aquele pãozinho de alho quentinho que vocês têm”. Muito bem! Aos poucos e poucos vamos assim angariando uma parcela de terreno (in)fértil no Céu.

No Sábado, é dia de Sogros. Franguinhos das Medas ao almoço, a 130 Km de casa, que nos fazem chorar, berrar e espernear por mais, porque são simplesmente os melhores mini-frangos assados que já tive a oportunidade de experimentar em toda a minha vasta vida de provadora de churrasco. Isso e a canjinha de galinha, que inicia o momento divino da degustação. Juntos impedem toda e qualquer tentativa de manter intervalos regulares de três horas entre refeições ligeiras, porque não há estômago que aguente outra refeição em tão curto espaço de tempo. E, após uma visita à capital distrital da região (mais 80 km de passeio de automóvel, para “fazer a digestão”), lá saltamos para a refeição soberana do dia. Antecipando o almoço do dia de Páscoa para o Jantar de Sábado Aleluia, o banquete consuma as elevadas expectativas criadas em relação à qualidade do soberbo repasto, desabotoa o botão das minhas calças e abre o frasco dos sais digestivos. Mais uma dúzia de amêndoas para adoçar a conversa que rompe a madrugada e, ainda com o caprino às voltas com os sucos estomacais, rendemo-nos à moleza provocada pela barriga cheia e vamos dormir.

No dia de beijar a cruz, a alvorada é apressada e, por vezes, dolorosa. Ainda com a boca a parecer papel cavalinho, e a imitar a manhã do dia de Natal, de uma só golada bebemos 1 copo de coca-cola para desobstruir as vias digestivas, abrindo, desta feita, espaço para o novo carregamento que se aproxima. Vestimos uma roupita, com sorte, a estrear, e voamos rumo aos meus avós maternos, numa viagem de 200km. Sem deixar descansar as pupilas gustativas, as glândulas salivares entram novamente em funcionamento, desta vez na sua máxima potência, porque vem aí o anho assado (borrego para os menos acostumados com estes termos mais rurais). Tenho que fazer um esforço gigantesco para me abstrair da ideia de que o petisco que jaz no meu prato, velado pelas batatas, pelo arroz e pelos grelos, andava há poucos dias completamente desorientado pela cozinha à procura da minha avó para receber o biberão de leite, soltando impacientes e ensurdecedores méeeees e pinchos de força descontrolada. Acaba o borrego, mas não acabam os repastos. A tradição manda ir a casa das pessoas afagar Cristo Ressuscitado com um beijo nos seus pés, exaltar “Aleluia, Aleluia” e sorver de uma assentada só, porque se faz tarde e o compasso não espera, mais uma fatia de pão-de-ló de Ovar e um copito de vinho fino. Graças ao Senhor que sou abstémia, ou seria uma fortíssima candidata a perder tantas e tão boas memórias das Páscoas da minha infância. A recordação mais forte que tenho é a regueifa circular – tradicionalmente era com este pão que os padrinhos presenteavam os afilhados e que, se a sua idade e perímetro cefálico permitissem, era enfiada cabeça abaixo. Seguiam-se momentos de verdadeiro terror para a criança, que durariam até que os adultos se enchessem de tirar fotografias com a criança a chorar inconsolavelmente sobre o alimento. Lembro-me também de vestir roupa nova neste dia, colecção Primavera/Verão, e de exibir, quando a Páscoa calhava numa época dita normal (Março), carregada de vaidade, os pêlos eriçados pelo frio e a pele molhada pela chuva, porque o casaco tapava a minha t-shirt nova! Bons tempos!

O quarto momento da minha Páscoa é quando ainda nos restam forças para mais 100 Km de viagem e vamos a casa do afilhado da minha metade boa. E para não baixar a média, mais bolos, mais bebidas, mais pecados gastronómicos que atingem o meu plano alimentar como balas deixando-o fragilizado e mortificado.

Resultado final: 600 e tal kilómetros de viagens automobilísticas, muitos beijos em crucifixos metálicos cheios de "micrómios" (como diz o meu afilhado), algum mal-estar digestivo e uma dieta de 5 semanas que irá recomeçar do zero (ou de um valor ainda mais negativo). O que vale são as barrigadas de riso, os banquetes de conversa e todas as recordações que se criaram e que se acrescentam às dos anos anteriores, que são apenas o que interessa conservar num lugar bem guardado no nosso coração e na nossa memória.

NOTA: O cartoon aqui apresentado é da autoria da ilustradora Cibele Santos, pelo que deixo aqui a recomendação para visualizarem o blog dela, porque está, simplesmente, DEMAIS!!! Não só apenas as mulheres, como também muitos homens, compreenderão cada letra e traço que ela publica.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

A… A… A… Atchim! Atchiiiiiiiiiiim!!!

Alegrem-se os Céus e a Terra porque chegou a Primavera! E é bom aproveitar bem isso porque a partir de 2015 ela terá um pouco menos de importância para os portugueses, já que a Resolução da Assembleia da República n.º 35/2008 prevê que, a partir dessa data, ai de quem se atrever a escrever o nome das estações do ano com letra maiúscula, porque esse gesto será subentendido como sacrilégio para quem legislou esta matéria! Mas isso são outros arrozes…

As últimas semanas têm sido cinzentas, sobretudo os últimos dias. Não é fácil adormecer, acordar e sonhar com a crise política, com a nuvem radioactiva e com a entrada do FMI, e é ainda menos suportável ir trabalhar a ouvir, de meia em meia hora, palavras como “eminência de despedimentos colectivos em todos os sectores”, “decréscimo da facturação” e “ausência de concretização de negócios”, entre uma enorme panóplia de vocábulos que, dedilhados ao som de um sentimento geral de desânimo, nos põem numa posição bem favorável a caminho do desemprego, do desespero, da desmotivação e de todos os outros "des"... Mas nada como um lindo dia de sol e portugueses a ganhar jogos nas competições europeias para sofrermos de uma amnésia temporária e pormos esses problemas para trás das costas. Aliás, problemas? Quais problemas?



Há umas semanas atrás chegou a Primavera "bela e amarela", ainda que de forma tímida e reservada. Consigo trouxe dois ou três dias de Verão que fizeram as pessoas tirar da naftalina os tops, os calções, as sandálias e os vernizes de cores quentes e fortes! Pareceu-me que algumas também conseguiram tirar do roupeiro alguma falta de bom senso. Mas, alto lá! Com isto não quero dizer que tenho alguma coisa contra as pessoas que, logo no primeiro dia quente do ano, vão à noite para o shopping de chinelito de dedo e calções de banho – gesto de libertação e resultado de 10 horas com os pés assados pelas botas de camurça e corpo ensopado pelas camisola de lã e sobretudos a fazer lembrar exércitos russos! E quem, como eu, tem a vantagem de ir a casa a meio do dia, tem também a hipótese de vestir algo mais leve e estival. E, claro, à medida que o final da jornada se aproxima, também regressam uns pés frios, uns arrepios desconfortáveis e uma vontade secreta de ter uma mantinha a cobrir as pernas porque “está um frio que não se aguenta só com esta camisolinha de algodão que nem os pulsos tapa” e “o que sabia mesmo bem agora era uns pauzitos a arder na minha lareira”. Mas é tão grande a vontade de fazer do Inverno história e tão vergonhosa a ideia de reconhecer que talvez ainda seja um pouco cedo para deixar as meias em casa que nem pensar em admitir isso em voz alta, perante quem quer que seja! Resta-nos cruzar os braços e tentar, pelo menos, que ninguém perceba pelas respostas naturais do nosso organismo, que estamos à beira de uma hipotermia...

Viva a Primavera e os carregamentos maciços de pólenes, poeiras e sementes que navegam pelo ar, ao sabor das nortadas matinais que anunciam tardes quentes e soalheiras. A… A… A… (silêncio) Aaaaatchim! Calma... Vêm sempre em par e um é mais lento! Atchiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiim! Pois bem! Já não tinha esta macedónia de sensações está para fazer um ano: os olhos permanentemente lacrimejantes, que impedem toda e qualquer tentativa de maquilhagem; arranhões e manchas provocados pelo intenso prurido na pele do rosto o que, sem o apoio da maquilhagem, me obriga a usar as unhas mais curtas do que um benfiquista em dia de jogo no Dragão (e que, ainda assim, me deixa a cara mais ou menos como ficaram as cadeiras da minha sala depois da chegada dos gémeos); a insistente impressão de que tenho uma formiga a percorrer vezes sem conta as minhas cavidades nasais; a desesperante comichão na garganta precisamente onde não consigo coçar sem que provoque o vómito; já para não falar do desejo ininterrupto de fazer uma imitação daquele anúncio em que a rapariga, no meio do primeiro encontro, simula a queda de um objecto ao chão para poder por termo àquela coceira na moleirinha que não a deixa apreciar convenientemente os atributos do jovem que está à sua frente.

Entretanto, os dias quentes tornam-se mais amiúdes e começamos a habituar-nos à ideia de que temos mesmo que guardar as camisolas de lã, as botas de cano alto e a roupa de cama hibernal (esta última parte é a que me está a custar mais e estou a ver Junho a entrar pela minha casa dentro e a ser recebido pelos lençóis polares em que estou tão viciada). Confesso que é de pôr os nervos em franja acordar de manhã, abrir o roupeiro e não apetecer vestir nada, mas não há melhor sensação do que ir ao baú e tirar de lá a bela da t-shirt rosa choque que tão bem ficará com as sandálias da mesma enérgica cor. Só há um pequeno problema: afinal o ano de 2011 não começou em Janeiro, nem em Fevereiro e, por isso, não se concretizou a sensação de dever cumprido das resoluções de Ano Novo. 2011 só começou em meados de Março, quando finalmente percebi que não é por respirar fundo e encolher a barriga que ela vai parecer menos proeminente e que se calhar até não seria mesmo má ideia passar um bocado de fome e transpirar uns litros de toxinas a ver se parte dessa camada adiposa, vulgo, odiosa, vai de férias… permanentes! 4 semanas volvidas, 45 litros de água com sabor a terra, 15 kilos de maça cozida, 400 toneladas de apetites por satisfazer  e 4 kilitos a menos e estou exactamente na mesma. A primavera deve-me estar a fazer mal e só devo ter emagrecido nos neurónios… Era bom que se começasse a ver alguma coisinha, senão, com o calor, sem nada que me sirva e juntando a crise que para aqui vai, a tendência desta estação, para mim, vai ser qualquer coisa deste género:


Já disse que adoro a Primavera?

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Lucky Thirteen

Adoro gatos pretos e 13 é o meu número da sorte! Estranho? Não... Tenho um Sansão rabugento que adoro (sem desmerecer a Dalila, claro) e casei com um lindo gatinho neste dia. E ontem o meu amigo Neves juntou-se ao grupo de seguidores deste blogue, completando o magnífico número de que tanto gosto! Obrigada a todos pelo apoio!

Já agora, sabem que dia é hoje? :-)