quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Sofrer para saudável ser!

Uma das minhas resoluções para 2011 está relacionada com a prática desportiva. Essa é uma inquietação constante para mim, quer por ser sempre tão difícil encaixar esta actividade nos meus finais de tarde, quer por ser cada vez mais complicado encontrar argumentos válidos para NÃO ir e ficar com a consciência imaculada.

Há uns tempos atrás li em qualquer lado que “com a idade, o nosso organismo perde a capacidade de reciclar toda a porcaria que metemos cá dentro”, como se isto fosse uma central de valorização orgânica... Eu cá dormia bem mais descansada com a outra máxima, a de que “as calorias são pequenos animais que moram dentro dos nossos roupeiros e que, durante a noite, apertam a nossa roupa”. Pois bem, seja qual for o fundamento responsável pela desproporcionalidade entre a minha volumetria e o tamanho das roupas, está mais do que na horinha de fazer alguma coisa pela minha saúde.

Segue-se então uma breve análise racional da “coisa”. Do lado dos prós… bem… as vantagens são mais do que suficientes, pelo que fazer este exercício parece no mínimo ridículo. Mas adiante! O lado positivo tem que ver, sobretudo, com a aquisição de um estilo de vida saudável: conseguir correr atrás da minha metade boa prescreve, efectivamente, uma admirável preparação física e uma notável coordenação motora, sobretudo depois dela desistir de esperar por mim quando lhe digo, pela 5ª vez, “só mais 2 minutos”, enquanto tento equilibrar-me em cima de uns tacões de 10 cm no “paralelo acima, paralelo abaixo”, ao mesmo tempo que seguro nos óculos, nas chaves, nos lenços, no batom de cieiro, nos brincos, no relógio, no cachecol e no chapéu de chuva.
Além disso, sou uma pessoa naturalmente preocupada e ansiosa, pelo que o exercício provou ser o meu Prozac particular. Por outro lado, tenho posturas a trabalhar ergonomicamente desaconselhadas e o inverno tende a congelar-me até à medula, sendo que a actividade física, como já tive ocasião de comprovar, baixa drasticamente o aparecimento de mais maleitas nas minhas costas, o que diminui a minha capacidade “hipocondrófila”. E claro, não podia deixar de referir este motivo: as idas ao ginásio fazem-me (acreditar que consigo) emagrecer uns quilinhos, mesmo que isso me dê o pretexto para no dia do ginásio ter de me alimentar melhor – e melhor, entenda-se, é muitas vezes satisfazer uma compulsiva carência de sacarose… Finalmente, é nestes momentos que tenho a oportunidade de afiar a língua porque, como toda a gente sabe, ninguém, muito menos as mulheres, gosta (nem consegue) ir ao ginásio sozinho. E não deixa de ser engraçado (e embaraçoso, também) quando damos conta que estamos a falar tão alto que todos os outros clientes já tomaram conhecimento que tivemos consulta no ginecologista na véspera. Enfim! Correr, saltar, pedalar revitaliza o corpo e tonifica o espírito! Só boas razões para não dar desculpas…

Do lado negativo… Já sinto as minhas faces a enrubescerem com a vergonha, mas a verdade tem de ser dita! Para começar, o meu ginásio é do outro lado da ponte, numa longínqua cidade em que eu não trabalho nem vivo (ainda que só demore 20 minutos a lá chegar em hora de ponta), sendo que escolhi esse apenas pela companhia. Além disso, este inverno tem sido muito rigoroso e toda a gente sabe que é pavoroso sair do trabalho para se afundar no trânsito de chuva e ainda ter de atravessar a ponte para ir para o outro lado - já deu para perceber que isto da "ponte" tem uma enorme carga psicológica subjacente. Também tenho uma vida social muito preenchida e, curiosamente, aparece sempre alguma coisa nesses dias. Ou seja, entre a dor na narina esquerda, idas ao supermercado para comprar salsa, possível queda de granizo e necessidade de arrumar a gaveta das cuecas, lá aparece sempre um bom subterfúgio para não suar a t-shirt.

Bem vistas as coisas, empreguei mais do dobro das palavras para identificar as vantagens em ir ao ginásio do que para não ir. Desta forma, se calhar não é pior começar a pensar em beneficiar da mensalidade que pago e começar a ir as duas vezes por semana, até porque o IVA aumentou – nos 2 meses anteriores paguei mais para ir 3 vezes por semana e quase não pus lá os pés. Mas há que ir com calma, senão ainda me posso magoar, ou ficar demasiado musculada ou, sei lá, ficar viciada naquilo… :) Tenho de impor a mim mesma uma espécie de castigo se faltar, do género, por cada vez que não for, ter de limpar o forno, ou lavar com uma escova de dentes os buraquinhos das persianas. Mas a quem prestaria contas? Também já considerei a ida a uma nutricionista, porque aí teria de apresentar resultados e como não sei mentir teria mesmo de ir ao ginásio para não ficar mal nas consultas quando ela me questionasse sobre o exercício nessa semana. Se calhar vai ter mesmo de ser…

Tenho uma amiga que vai para o Brasil agora. À parte do trabalho que vai desenvolver, vai ter a oportunidade conseguir “malhar” todos os dias na “academia”. Vai praticar modalidades distintas, umas mais orientadas para o espírito, outras para o corpo. E por gosto! Há mesmo quem faça isto por prazer? Será que algum dia vou ter essa sorte? Para mim é tipo xarope para a tosse… Há uns anos comprei um aparelho de fazer abdominais – acho que ganhou ferrugem. Há dois anos e tal recebi uma bicicleta no Porto Bike Tour, mas não ando com ela porque é muito presa e tem um selim muito duro.
Passados poucos meses adquiri uns patins que usei 3 vezes porque me parece que deslizam pouco. A minha irmã que ganha a vida com o desporto (irónico, não?) já me deu uma bola suíça, uns elásticos, um tapete e mais qualquer coisa que não me estou a lembrar, mas arrumei aquilo em qualquer lado e não encontro. O maridão comprou um vibroshape, embora nos esqueçamos sempre de o usar. Mas ainda me deve faltar algum cromo para completar a colecção e abrir um ginásio em casa. Deve ser mesmo isso que falta para começar a gostar e a querer fazer desporto. Vou procurar diversificar os exercícios, vou frequentar outras aulas e largar um pouco o tapete, a bicicleta e os pesos de sempre. Porque o que custa realmente é tomar a decisão de ir e ficar lá 2 horas a treinar. De resto, não há nada melhor do que a sensação de dever cumprido no momento da saída!

5 comentários:

  1. amén!!!
    à excepção da vida social muito preenchida e de atravessar a ponte e mudar de cidade para ir ao ginásio, este texto poderia muito bem ter sido escrito por mim. (passando desde já ao auto-elogio)
    mas, se me dessem a escolher, eu preferia o xarope p'ra tosse!! mil vezes o xarope p'ra tosse!! :)
    ir ao ginásio, para mim, é como fígado frito. blhec, detesto!!

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  2. Olha, então posso desde já dizer que ontem comi fígado frito ao jantar. Mas daquele mesmo mole que se desfaz mal se põe o garfo, e sem molho de cebolada, para saber ainda mais a fígado, mal passado e 2kg dele!

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  3. era o que eu deveria ter feito também, mas por uma razão qualquer, que agora não consigo lembrar-me, comi uma sopinha e estiquei-me no sofá... mas havia uma razão qualquer... que agora não consigo lembrar-me... mas era uma razão... :p

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  4. Mas fiquei muito orgulhosa por ter conseguido comer o fígado. Só foi pena que só tenha comido um bocadinho - 40min de fígado. Não sei bem porquê, mas ontem não estava com grande apetite... ;) O que vale é que quando cheguei a casa também tinha uma sopinha à minha espera! Canja de galinha para curar a indisposição!

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  5. Olha lá quem é a tua amiga que vai para o Brasil malhar todos os dias por gosto???
    É que eu sou a tua amiga que vai para o Brasil malhar porque é a única forma de ter contacto directo e verbal com outros seres humanos...

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