domingo, 2 de janeiro de 2011

O tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem.

Ao longo dos anos tive a oportunidade de reparar que, sem prejuízo de violar qualquer lei da física, a passagem do tempo para mim está dotada de uma certa aceleração. Com isto quero dizer que a velocidade a que as horas, as semanas e os meses passam é crescente, sem que na maior parte das vezes me consiga aperceber disso. E no que diz respeito a esta aceleração, pode-se dizer que a minha vida tem duas grandes fases, AM e DM, respectivamente, Antes e Depois de atingir a Maioridade.

Durante a minha fase AM, conseguia catalogar toda a minha vida por anos escolares. Associados a cada ano vinham os amigos, as mudanças morfológicas, as músicas, as matérias escolares e as paixonetas, sem esquecer acontecimentos políticos, desportivos e sociais da época! Como era fácil para mim relacionar a prestação da “Geração de Ouro” tuga no campeonato europeu de futebol de 1996, com o desembarque da Normandia que era uma das matérias das provas globais que estavam, simultaneamente, a acontecer, e para as quais me preparava ao som da banda sonora do filme “Romeu e Julieta”. Obtinha, assim, um cruzamento perfeito de toda a informação, permitindo-me sem grande esforço contextualizar muito rapidamente qualquer acontecimento dessa altura. E tudo acontecia muuuuuito devagar. Os períodos lectivos pareciam intermináveis. A distância entre os testes era tão grande que nos fazia esquecer tudo o que tínhamos aprendido até então. Além de serem longas, as férias demoravam a passar, sobretudo se nunca mais tínhamos encontrado aquele “alguém especial” com quem apenas tínhamos trocado olhares cúmplices sem nunca termos sequer falado, mas que ainda assim a ansiedade pelo reencontro fazia esticar ainda mais aquela grandeza. Um ano na minha vida, naquela altura, era o suficiente para tudo mudar: o corpo, as ideias e os interesses. Num determinado ano calçava botas de tacão, vestia calças vincadas e ía à discoteca da moda – onda trendy. No ano imediatamente a seguir usava calças tão largas que cabia o equipamento de ginástica lá dentro, trazia a barriga quase sempre à mostra, independentemente da temperatura, e frequentava os bares alternativos onde passava tudo menos a música que toda a gente sintonizava nos walkmans – onda indie. Os rótulos eram excessivamente importantes nessa altura, doentios até.

Maioridade atingida - fase DM. E numa noite, mais precisamente numa 5a feira académica (numa daquelas 5as feiras em que a minha primeira aula começava às 8h e a última só terminava às 20h), sentei-me ao pé de uma mesa do bar onde a comunidade estudantil costumava ir beber uns copos e dançar, como se o dia seguinte não fosse existir, típico destes espaços concebidos bem no coração da cidade. Deviam ser umas 4h e aqui a caloira estava de rastos, dada a infinidade deste dia. Fui abordada por um colega finalista que não reconheceu em mim aquela ausência de energia e que me “ordenou” que aproveitasse, ao máximo, o tempo que tinha pela frente. Segundo ele, a partir do meio do curso o tempo iria passar a uma velocidade louca, pelo que era imperativo sorver todas as experiências, saborear todos os momentos e desfrutar de todos os minutos. E assim aconteceu. 

A partir dessa altura, os dias tornaram-se mais rápidos e os meses mais curtos. “Para o ano já vou no carro do cortejo”, “O próximo é o último ano!”, “Já sou finalista.”, “Tenho de mandar CV.”, “Esta é a minha última queima das fitas, snif, snif…”, “Passei à minha última cadeira”. E sem dar por isso, estou sentada à frente de um computador com o logótipo de uma empresa a aparecer como fundo do desktop, com horas estabelecidas para comer, para dormir, para tomar café e para momentos de lazer: a minha vida transformada num plano de trabalhos com duração, custos e mão-de-obra necessários bem definidos para a empreitada de execução do meu “projecto de vida”! Agora, nunca sei a quantas ando. Tão depressa é 2ª feira, como estou a desejar bom fim-de-semana aos meus colegas. Vejo um filme a pensar que o tinha ido ver ao cinema no ano anterior, quando na verdade já tem 5 anos. Ainda estou a saborear as doces lembranças das férias de verão e começa a azáfama do Natal, que rapidamente dá lugar à preparação das mini férias de Carnaval, a que, num instante, se seguirá o lufa-lufa da organização das férias grandes novamente. E mais um ano que passa. E outro e mais outro. A primeira ruga rasga o meu rosto, a recuperação das noitadas é cada vez mais dolorosa e vou pela primeira vez de urgência para o hospital com uma crise de coluna. São os sinais de uma velhice prematura imprimidos em alguém que mal deu conta que a adolescência acabou e que ainda estranha sempre que é chamada por “Senhora”!

Começa a bater forte a decepção de quem ainda não conseguiu consumar metade das intenções agendadas para 2010 por carência de tempo, por falta de oportunidade ou simplesmente por desmesurada preguiça (nem para 2009, nem para 2008 e muito possivelmente nem para 2007). Mas por mais vertiginosa que seja a velocidade a que o tempo passa, não posso dar esta desculpa - “NHD” como disse no primeiro post que fiz neste blog. “Tempo é o que fazemos com ele!” não foi o slogan de uma campanha publicitária de uma conhecida marca de relógios? Então será precisamente essa a minha palavra de ordem para 2011.

Cheguei ao final de mais um ano e é tempo de balanços e inventários! Está na altura de fazer promessas, de definir resoluções e de estabelecer os objectivos para o ano que está a nascer. Este ano vai ser diferente, pelo que fica aqui o compromisso registado das minhas resoluções de ano novo:
  •  Vou emagrecer 5kg (o que traduzido da linguagem das mulheres significa sempre, pelo menos, o dobro);
  • Vou ver menos séries da fox;
  • Vou praticar mais desporto, pelo menos o suficiente para me permitir subir um lance de escadas sem abafar;
  • Vou gastar menos dinheiro em vernizes, champôs e cremes que não uso;
  • Vou preocupar-me menos com as minhas hipocondríases;
  • E daqui por um ano vou estar aqui a registar (e não, “vou tentar”) o pleno sucesso deste meu plano para 2011, mesmo que o tempo fuja de mim, mesmo que eu corra atrás dele e não o alcance, porque significa que tentei até ao último minuto e que lutei pelo meu próprio êxito – com esta os meus amigos da Programação Neurolinguística ficariam muito orgulhosos!

Um feliz ano de 2011 pleno de concretizações, garantindo assim que a passagem do tempo não se volatiliza sem considerarmos que a nossa existência foi significativa para alguém e para nós próprios!


5 comentários:

  1. Assim seja, minha amiga!! :)
    Que 2011 te traga isso tudo que propões e muito mais!!
    Um grande beijinho

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  2. Amiga pela parte que me toca irei ajudar-te e de uma forma muito prática. Trago-te a coleção completa de vernizes da risqué dos brasis e começas logo a poupar aí.

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  3. Se quiseres contribuir para que o meu casamento fique ainda mais por um "p######o", estás à vontade! Ele ainda não se fartou de ver vernizes espalhados pela casa toda, vernizes esses, que segundo ele, são todos iguais. Ora, como nós sabemos bem um "carmim" não tem nada a ver com um "gabriela"...

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  4. Amiga,
    So faltou dizeres que te vais deitar mais cedo e levantar mais cedo.
    Beijinhos e toda a sorte do mundo para 2011.
    Nuno Monteiro

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  5. Isso é que era, Nuno! Isso é que era...

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