segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

God save the Queen

Hoje quis abandonar um pouco as trivialidades que caiem do meu Céu para falar sobre uma determinada situação com a qual tenho vindo a ser confrontada, cada vez com maior frequência. E isto pode ser polémico...

Ando a ficar um bocado… “possuída” com o facto de nos dias que correm toda a gente andar para aí a falar e a escrever em inglês, como se assim as suas palavras se cunhassem com maior impacto, ou como se só assim fizessem algum sentido, do you know what I mean? Eu compreendo que o fenómeno não seja recente, muito pelo contrário. A importação dos filmes de Hollywood e da música Rock fizeram há bastantes décadas com que as portas se abrissem. A necessidade de uma linguagem universal nos negócios, no conhecimento e nas viagens alargou caminho. E, off course, tudo isto contribuiu de sobremaneira para a adopção de tantos estrangeirismos na nossa linguagem: na comida (hamburger), no penteado (brushing), na roupa (jeans), na economia (cashflow), etc. Não sou uma entendida nesta matéria, mas o que considero ter criado a verdadeira auto-estrada da globalização da língua foi a tecnologia. For instance: por muita informação traduzida que exista hoje em dia, os jogos de vídeo/PC são em inglês; as linguagens de programação são em inglês; os computadores apresentam muitas instruções em inglês; e à distância de um clique, a internet dá-nos tudo o que quisermos, e que não quisermos também, em inglês.  For God's sake! Como é que não se pode esperar que a Sua Majestade e o tio Sam apareçam, assim, tão espontaneamente na nossa oralidade? Mas não é isso que me põe os nervos em franja. É, sim, quando essa atitude passa a ser plenamente intencional.

A chegada do facebook, do twitter, do flickr, do hi5, do Buzzand soo on, fizeram com que esta impulsividade na utilização do inglês fosse transportada para a escrita informal das redes sociais. As fotografias são legendadas com frases tiradas de romances de casa de banho, mas que, por estarem escritas naquela língua, se transformam em obras dignas de Nobel. A indignação ou satisfação perante um comentário alheio mais impertinente não poderá ser, em tempo algum, reconhecida e respeitada se for publicada na língua de Camões. A frase que melhor caracteriza o status de alguém fica sempre melhor se for um extracto de uma música de uma banda americana dos anos 80. E quando alguém quer parecer verdadeiramente diferenciado pela sua extrema sensibilidade e intelectualidade, pimba, espeta com uma suposta verdade absoluta e irrefutável em inglês, que nos faz pensar “coitado, o gás deve ter acabado no momento em que estava a tirar o champô”. Há mesmo quem se recuse a escrever o que quer que seja em Português. Jesus! (em itálico precisamente para se perceber que deve ser dito em inglês) E às tantas, se são interpelados por um turista que lhes pergunta “Dou you speak English?”, eles ainda são capazes de retribuir com um “Un peu. Un peu”. O jeito que dá ter tradutores online sempre tão disponíveis aos nossos devaneios…

Não quero aqui vestir a pele do corpo de júris dos Ídolos quando os concorrentes teimam em não optar por músicas nacionais, nem parecer exageradamente crítica nem intransigente a este respeito, mas fazem-me espécie estas coisas. Existem palavras unicamente em português, sem qualquer tradução noutras línguas, pelo que facilmente se compreende que temos uma língua riquíssima. Então qual é o objectivo de se manchar constantemente a nossa linguagem com palavras que não pertencem à nossa cultura nem à nossa vivência? Qual é o fundamento para que uma personalidade da cena da música portuguesa, que está para aqui na televisão a ser entrevistada, que ganha prémios e que representa Portugal nos concertos que dá no estrangeiro, esteja a dizer que a nossa música, lá fora, é cool. CoolWhatever, há fenómenos que me transcendem. Qualquer dia andamos por esse mundo fora a cantar o fado “Oh people of my homeland” e a comer “Oporto Way's Guts” (haverá tradução para tripas ou, melhor ainda, haverá algum outro povo no mundo que as coma?).

O pior de tudo é que eu sou uma dessas pessoas… Não que o faça com regularidade, muito pelo contrário. Mas de vez em quando, sem querer, ou de propósito, sai-me. Mas prometo que vou deixar de o fazer, so help me God!

By the way, fica aqui um miminho para quem tem este e outros problemas de expressão…


3 comentários:

  1. I know exactly what you mean with this post, sim escrevi "post", porque "post" é mais uma palavra inglesa que não temos por costume traduzir. Agora até se diz "vou postar", como se de português corrente se tratasse, pessoalmente prefiro "mandar postas", que também se assemelha e é mais realista, nos tempos que correm. anyway, confesso-me como utilizadora frequente de estrangeirismos e, damn, can you blame me? aliás, não sou apenas utilizadora de estrangeirismos, temo mesmo que a palavra seja: fã! Mas, in my defense, sou fã pré facebook, pré hi5, pré essas coisas todas, get it? Está em mim... can't help it...
    Embora concorde com tudo o que escreves sobre a riqueza da língua portuguesa, temo não ser capaz de abandonar estas pequenas expressões de que gosto tanto... shame on me?? :$

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  2. Tendo de arranjar aqui uns botões de "gosto muito" e de "não gosto nada"...

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  3. Diz-se: Like a lot e Don't like at all!! ;)

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