Nada melhor do que este dia, o Dia Mundial da Criança, para gritar aos sete ventos este chavão: as crianças são, efectivamente, a melhor coisa do mundo! E estes 3 anos, 9 meses e 1 dia em que coabito diária e intensamente com uma, o meu filho, permitem-me obter toda a propriedade e legitimidade para dissertar sobre o assunto. Senão vejamos…
Quem nunca teve como sonho de criança ir a um almoço (daqueles em que queremos fazer mesmo boa figura) vestida com uma camisolinha imaculadamente branca - e imaculadamente limpa - e a nossa cria resolver achar que o repasto não está ao seu gosto, debitando toda a sua insatisfação sobre o nosso decote?
Quem nunca adorou ir buscar o carro à oficina, acabadinho de ser aspirado (coisa não vista há muito mais tempo do que a necessidade exigia), ir buscar a criatura à escolinha mais cedo para promover tempo de qualidade, esta ainda vir a lanchar e encher a viatura de ziliões de pequenas migalhas, que farão companhia às toalhitas usadas depositadas nas várias portas do carro, aos brinquedos distribuídos pelos recantos escondidos e aos papeis de chocolates que substituirão refeições que não terei tempo de fazer?
Quem nunca desejou secretamente adormecer e, passada meia hora, acordar com a persiana a abrir porque o nosso pequeno príncipe, que não sabe usar o relógio, nem que são apenas 1h30 da manhã, acha que já são horas de acordar e de ver o Blaze e os Monster Machines?
Quem nunca ansiou por ter um fim-de-semana a dois, marcado há ano e meio, perfeitamente compatibilizado com datas de aniversário e eventos socias infantis, perfeitamente articulado com os cuidadores que nos vão substituir, perfeitamente artilhado de sopas, remédios e 20 mudas de roupa e ter que o adiar (que é como quem diz, cancelá-lo) porque apareceram umas borbulhas esquisitas no miúdo que, vai-se a ver, afinal eram apenas marcas de uma caneta de filtro mal escondida (e nada de varicela)?
Quem nunca sonhou poder acordar às 4h da manhã, com o seu filho a chorar porque tinha vomitado, ter que lhe dar banho, secar o cabelo, acalmá-lo, mudar a cama, tirar os restos de esparguete à bolonhesa que ficaram nos lençóis e metê-los na máquina a lavar, mudar de pijama, entretanto conspurcado, porque é preciso abraçar uma criança (mesmo quando tem vomito até às orelhas), e repetir este processo 3 vezes numa mesma semana, só porque é altura de tosses e expectorações?
Quem nunca quis trocar uma tarde num spa, de mimos, silencio, ócio e egoísmo, organizado por um restrito grupo de amigas sem filhos, por um festival do Panda?
Pois muito bem, apesar de nunca ter desejado com acérrimo afinco nenhuma destas coisas, a verdade é que elas aconteceram, acontecem e continuarão a acontecer. E sabem porquê? Porque apesar do café assumir uma nova e primordial importância na nossa vida, de ganharmos rugas e cabelos brancos, de quase deixarmos de usar saltos altos, de aderirmos aos almoços em restaurantes childrenfriendly, em substituição de jantares em restaurantes de autor, de trocarmos as manhãs de domingo passadas na cama a ver filmes por “quero leitinho com bolachas do mauzão” quase de madrugada, nada nos aquece mais o coração do que ter um filho que antes de se deitar se vira para nós e nos diz “mamã, goto muito, muito, muito, muito, muito de ti, do papá e… do Vicente”!
Pois é… É que depois de passarmos por tudo isto, queremos voltar ao início e duplicar a dose! Ou seja…
Sem comentários:
Enviar um comentário