Tudo começou
há quinze dias, num belo Sábado, com a visita da minha prezada amiga Xana.
Quando lhe abri a porta com o aspirador numa mão e a esfregona na outra,
informei-a que estava na época de saldos e que a bicharada tinha resolvido
mudar a roupagem, de maneira que aqui a escrava exaurida estava prestes a
chegar à betonilha de tanto aspirar, “swiffar” e “esfregonar” pêlos de gato. Conversa
vai, conversa vem, e num instante estava a gabar as minhas feras porque, ainda
que fossem gigantes destruidores de sofás e de cortinas, nunca tinham vomitado
bolas de pêlo. Predestinadinha para o azar como eu sou, não tardou muito até
encontrar uma vomitadela recheada de biscoito em pleno tapete do quarto! E sem
ter tempo para recuperar do choque, fui à cozinha buscar o arsenal de
desinfecção e dei de caras com um líquido esbranquiçado, no meio da sala. Daí a
nada, pequenas poças de bílis reproduziam-se no meu palácio. De modo que lá
andava eu, de nariz no ar e de olho pregado ao chão, em busca de vestígios de
fluídos estomacais e do causador desta tempestade digestiva! E eis que o meu
ouvido detecta um guincho abafado e interrompido por libertações involuntárias
do enfermo. Resolvi dar tempo ao felino para ver se lhe passava a indisposição,
mas sendo que o bichano é a minha sombra lá em casa e notando que fazia tudo
para manter a máxima distância de mim, concluí que algo se passava e que não
seria nada de bom. E foi quando dei com ele a dormir na estante mais alta lá de
casa, na cave escura e fria, que pensei que o pobre animal tinha escolhido ir
morrer longe, e aí fiquei realmente preocupada.
Como a coisa
não estava para melhoras, 2ª feira à hora do almoço lá fui eu, avenida abaixo,
com uma transportadora debaixo do braço (que é como quem diz, a parar de trinta
em trinta segundos para mudar de mão, que o Sansão pesava 5,650 Kg), e entre
“miaus” sofridos lá o levei à doutora a quem ele não bufa - e a quem, mais uma
vez, não bufou, nem com o termómetro metido no dito cujo! Mexe daqui, mexe dali
e o diagnóstico parecia inconclusivo. Mas a panóplia de sintomas revelavam que,
o que quer que fosse, seria o suficiente para o meu querido autista ficar lá
durante o dia. Vómitos, temperatura muito baixa, perda acentuada de peso,
desidratação e falta de apetite para algo que teria surgido há menos de dois
dias, condenavam agora a pobre criatura àquilo que ela mais temia: distância de
casa, proximidade a estranhos, contacto com cães e assistir a este inferno aos
quadradinhos (enjaulado)! Todo ele era caspa e pêlo no ar com o stress, mas lá teve de ficar, não por
umas horas, mas por dois dias.
Controlando-me
para não ligar para lá de hora em hora para saber novidades, lá me fui
aguentando até 3ª Feira ao final do dia, momento em que trouxe o Sansão com meia perna depilada, por causa das “picas”, para o pé da sua irmã espevitada,
amigável, social e.... cujo cérebro fez shut
down durante a sua ausência!
Ao contrário do que seria de esperar, o seu regresso não foi acompanhado de
lambidelas nem “miaus” saudosos, mas sim de “Grrrrrr”, “Fffffffffff” e
“Miiiiiiiiiiaaaaaaaaaaaaaaaauuuuu-se-não-desapareces-da-minha-vista-espeto-te-com-uma-unharra”.
A minha alma estava parva... À semelhança da Dalila! A pobre criatura, autistade genoma, bem que procurava incansavelmente a irmã, mas bastava à outra que se
apercebesse apenas que o irmão estava a olhar para ela, para lhe saltar um
olhar fulminante e mais 10 segundos de palavrões felinos! Já não bastava ao
bicho não comer, nem dar uso ao intestino, como agora estaria condenado a viver
na solidão e no medo.
E então tive que os separar pela primeira vez, em casa – a Dalila ficou do lado da sala e o Sansão ficou do lado dos quartos e das casas de banho. Não sei se pela tristeza, se por outro motivo mais bizarro e inexplicável, nessa noite o intestino do meu rapaz funcionou! Ainda pensei que fosse algum problema de canalização, mas os sinais deixados dentro das duas sanitas não deixaram margem para erros: o autismo do meu gato revelava novas formas de expressão!!!
A parte boa?
Ao mesmo tempo que fizeram reset à
minha Dalila, fizeram uma lavagem cerebral ao meu Sansão (que mais parece ter
trocado de cérebro com a irmã) e agora está mais meigo do que nunca! Todo ele é
mimo e meiguice. Mas gosto deste novo Sansão! A ver vamos se quando lhe passar
o faniquinho à Dalila ele não volta a transformar-se no meu gato autista…
E então tive que os separar pela primeira vez, em casa – a Dalila ficou do lado da sala e o Sansão ficou do lado dos quartos e das casas de banho. Não sei se pela tristeza, se por outro motivo mais bizarro e inexplicável, nessa noite o intestino do meu rapaz funcionou! Ainda pensei que fosse algum problema de canalização, mas os sinais deixados dentro das duas sanitas não deixaram margem para erros: o autismo do meu gato revelava novas formas de expressão!!!
Entretanto levei
ambos para a clínica, dado que, a páginas tantas começaram os dois a vomitar, e
começava a parecer aquelas mães desesperadas com gémeos, que pintam as unhas ao
filho doente, porque estão fartas de inserir supositórios e não vêm meio da
febre baixar… Voltaram para casa no mesmo dia, aparentemente bem.
“Aparentemente”,
disse, porque as visitas à doutora não se findaram aqui. Mas finalmente, depois
de 4 dias de internamento, outra série de análises, soro, uma ecografia,
alimentação por sonda, e mais meia perna depilada, fui buscar o meu Sansão definitivamente
(até ver) ! Quando cheguei, a veterinária disse-me que ninguém lhe conseguia
tocar e que até ao meu marido, que o tinha ido visitar na véspera, ele tinha
rejeitado e mostrado a sua fúria. E então eu cheguei, e então eu aproximei-me
dele, e então ele enroscou-se nos meus dedos e no meu pescoço, começando a ronronar… E então o amor de filho é uma coisa muito linda! (É nesta altura que quem não tem gatos costuma ficar
farto desta lamechice e interrompe a leitura, por isso estejam à vontade,
que eu não levo a mal).
Escusado
será dizer que aquele aroma que fazia a Dalila ficar “piradona”, foi
intensificado por esta estadia prolongada ao pé de vários cães, de modo que a
gata ficou absolutamente descontrolada e foi então que a minha casa virou palco
de uma cena de ódio, discórdia e quase sangue, que me levou a separá-los
durante algum tempo. O Sansão ainda estremece se sentir a irmã porque ficou
traumatizado com o mau feitio que a tem assistido desde que regressara, mas não
desiste de a procurar, de estabelecer contacto e de a reconquistar! A cada
tentativa falhada, segue-se um gemido chorado, o que é muito triste, vindo de
um animal que nunca mia (a não ser quando vê fiambre).
E como se
não fosse suficiente, a fera rebelou-se também contra nós. Lembram-se de ter
dito que “a
minha gata virou um pingo de mel que nem virada do avesso, pendurada pelo rabo
ou perseguida durante horas pelos miúdos, é capaz de morder quem a está a
apoquentar”? Esqueçam isso tudo… Estava pior do que quando chegou a minha
casa com 400g de pêlo e osso!!!
Bem, eu cá não gosto de gatos mas li até ao fim :p E só posso dizer que é mesmo "amor de mãe" =)
ResponderEliminarAs melhoras às tuas feras..