Hoje estou aqui para contar a história do dia em que fui atropelada por uma nave espacial e por uma tempestade de meteoritos.
Não me consigo recordar de quem me disse que a aula de TRX era muito "potente", mas uma coisa posso vos garantir: "potência" é coisa que não falta lá (note-se que esta grandeza é função da quantidade de energia gasta por unidade de tempo e eu derreti os meus músculos todos com tanto Joule)! O TRX, que significa treino em suspensão, utiliza unicamente o peso do nosso corpo (aqui eu ganho aos pontos muito boa gente esforçada, e magra, que lá anda). Deixo um vídeo para perceberem bem a excelente aplicabilidade do termo à modalidade.
Não se deixem enganar pela criancinha e pelas senhoras a entrar na meia idade que aqui aparecem, porque isto é mesmo um treino no demo!
Eu e uma amiga estreante no ginásio (a valente), face à hora e à sobre-ocupação das máquinas, decidimos que havíamos de experimentar aquela aula. Para não enfrentarmos o inimigo de olhos vendados resolvi, numa primeira fase, fazer prospecção do terreno e espreitar para ver se as pessoas que estavam à espera da aula eram todas homens, todas musculadas e todas com aquele ar alucinado de quem não está ali para passar o tempo (como nós). A amostra era bastante diversificada e animadora. Numa segunda fase perguntei a uma rapariga se aquilo era muito violento/agressivo, ao que ela me respondeu que era pacífico porque seríamos nós a impôr o nosso "grau" de dificuldade - só percebi lá dentro que tinha escolhido muito bem a quem fazer a pergunta e que ela já era "pós-graduada" nestas andanças. E como pelo meio da resposta dela surgiram as palavras "abdominais" e "braços" (que são músculos praticamente inexistentes que carecem rápida e desesperadamente de muito trabalho) fiquei convencida!
Lá entramos. Nunca cumpri serviço militar (muito embora tenha andado na praxe de engenharia, o que é praticamente a mesma coisa), mas tenho a certeza absoluta que as sessões de GAM (Ginástica Até à Morte) não deviam ser muito mais "potentes" do que estas! Fiquei estourada, mas a coisa ainda não tinha chegado ao cume e só me apercebi disso quando o professor disse: "Agora que acabámos o aquecimento, vamos passar ao primeiro grupo muscular". O QUÊ???? Aquilo era só o aquecimento? Bonito...
Já o professor tinha explicado o exercício e ainda andava eu às aranhas para conseguir regular as fitas ou enfiá-las em condições nas mãos. E depois, quando finalmente conseguia isso, como não tinha ouvido a explicação, fazia tudo mal, para além de que, para conseguir a tensão necessária nas fitas, tinha quase que entrar pela parede dentro e, como isso não era possível, ficava lá às rodas até conseguir encontrar uma posição em que não fosse dar marretadas na minha amiga (que estava ao meu lado), nem ficar com o rabiosque na cara de um colega desconhecido... E foi então que todo o meu estado de compenetração e entrega pereceu!
Ah! Esqueci-me de dizer que tinha andado o dia todo cheia de sono, e, como já eram 17h e ainda continuava nesse estado de dormência total e absoluta, resolvi tomar o meu 3º café dos últimos 3 anos. Meninas/os! Não sei se foi o café, se foi o sono, mas deu-me semelhante ataque de riso lá dentro que cheguei a pensar que o café estava "dopado". Ainda por cima o professor tinha um ar super profissional e não se vislumbrava qualquer ponta de palhaçada, não sendo fácil camuflar este meu ataque. E se os meus lânguidos bracinhos já não tinham força nenhuma, a rir-me como uma bêbada é que a coisa não ia mudar de figura. Tive que fazer um esforço colossal para pensar noutras coisas e não me desfazer em lágrimas de riso. Comecei a entrar em desespero com tanta gargalhada oprimida e cheguei mesmo a ponderar abandonar a aula. Valeu-me a companhia porque eu não podia ficar assim tão mal vista logo na primeira vez... Enfim...
E se já estava a ser difícil executar correctamente os exercícios com as mãos, imagine-se agora com os pés! E para complicar ainda mais, completamente suspensa, com flexões ao barulho, com o corpo de lado, e depois de pé novamente, e tudo em 3 segundos, e várias vezes seguidas, numa rotina digna de ser apresentada num circo, só que sem rede por baixo. Pffffffffffffffffffff... Os meus músculos começaram a deitar fumo!!!! Escusado será dizer que das duas séries de 15 que foram feitas, eu fiz uma única vez porque foi aí que não me consegui conter mais e me entreguei ao riso audível e despojado, face às figurinhas que me estava a ver fazer. E fiquei ali de pé, especada, a ver se me passava... E não passou!
A única coisa que me conseguia controlar era a antevisão das consequências resultantes desta sobreprodução de ácido láctico. Mas logo a seguir a minha amiga saía-se com um "Amanhã nem sequer vou conseguir escrever. O teu carro liga-se com botão, ou vais ter que ir à boleia?" e retomava a histeria!
Finalmente ouvimos as palavrinhas mágicas do nosso mestre "Vamos fazer os alongamentos, agora", sinal de que o nosso suplício via, finalmente, a luz no fim do túnel e que ia voltar a ter os pés permanentemente assentes no chão, terminando com aquele estado de "Xuspensão". Ao sair da aula percebemos, imediatamente, que tínhamos adquirido um novo andar e que não apenas os braços, mas todos os grupos musculares estavam em overdose com tanta "potência". A minha amiga ficou motivadíssima para o ginásio e para estas aulas, ainda que não tenha sido capaz de preencher sozinha a ficha de inscrição por falta de força nas mãos (está até com receio que o banco rejeite o pedido de débito directo uma vez que a sua assinatura ficou totalmente diferente). Depois da aula ainda fui tentar fazer um pouco de treino cardiovascular, ausente naquela modalidade militar, mas ao cabo de 15 minutos "atirei a toalha ao chão" e não a tornei a apanhar! Pontos positivos: afinal tenho músculos, dado que tenho dores em sítios que nem imaginava ser possível; nada poderá ser pior do que isto, pelo que, se sobrevivi a esta, posso experimentar TODAS as aulas do ginásio!
Pela primeira vez desde que fui na minha caminhada de fé que não me sentia tão cansada e adormeci sem ter tempo, sequer, para me aperceber que tinha sono.
Normalmente demoro cerca de 24h para ter dores musculares, o que não aconteceu, seguramente, desta vez. Não precisei de boleia porque consegui ligar o carro, mesmo não tendo o dito botão, mas isto promete complicar com a passagem do tempo. Uma coisa é certa: o 4º café do triénio já cá canta para conseguir aguentar. Só espero que não me dê outro ataquinho como o de ontem! Mas também estou certa de que não tenho força, nem energia para outro com tamanha "potência"!!!
Para a semana, à mesma hora, lá estarei, com o único propósito de desafiar as minhas limitações (é que além de desequilibrada, descobri que sou masoquista). E depois, já se sabe...