Antes de mais, devo advertir que este texto, se não for lido ao som de uma música de Natal bem alegre, corre sérios riscos de perder metade do interesse e adquirir o dobro do aborrecimento, até porque a palavra Natal e suas derivadas são aqui repetidas 27 vezes. Desta feita, recomendo a sua leitura ao som da seguinte trilha (mas baixinho, para não ficar a doer muito a cabeça):
Esta é uma época particularmente agradável para mim. Quando acabam as férias e os dias são encurtados pelo frio, pela chuva e pelo vento, inauguro a contagem decrescente para o dia 1 de Novembro. 1 de Novembro?! É certo que o Advento só tem início a 1 de Dezembro, mas quanto mais longa for esta época, melhor! Alcançado este dia, a partir do qual os hipermercados começavam a estar abertos de manhã à noite, todos os dias, repetindo indefinidamente promoções natalícias e cânticos da época, reinicio a riscagem dos dias no calendário, agora até ao dia 1 de Dezembro, para poder montar o pinheirinho, cumprindo todos os preceitos da tradição. Esta tarefa será repetida, seguramente, mais 20 vezes até à véspera do Natal, dada a insistência das minhas feras em fazerem parte da sua decoração. E a partir daí, gostaria que o tempo parasse. Mas nem adianta pedir isso ao Menino Jesus porque os dias voam até ao dia 24 mais depressa do que as nove renas do Pai Natal na Noite Feliz.
Adoro o Natal pela mesa na Consoada, preenchida pelas pessoas que amamos, apesar de faltar sempre alguém importante, por muito grande que seja a mesa.
Adoro o Natal pelo cocktail de cor e luz que banha a cidade, gerado pelas iluminações de rua (cada vez mais humildes), pelas decorações das montras ou simplesmente pelo amontoado de pessoas que pinta as principais ruas comerciais com os casacos, as camisolas de lã e os sacos das compras. E como gosto das cartolinas fluorescentes a anunciar as promoções (como se estivéssemos no talho e se se tratasse de bifes da vazia ou de costela mendinha) e das luzes descaracterizadas e exageradas (que às vezes mais fazem lembrar uma festa popular do que uma religiosa).
Adoro o Natal pelo canto da lenha ainda húmida a crepitar e pelo perfume encorpado que exala através das chaminés fumegantes.
Adoro o Natal pelas canções natalícias criadas pelas rádios onde, utilizando a ironia, a comédia e os seus débeis talentos artísticos, conseguem sempre contextualizar esta festa na conjuntura actual, sem que fiquemos deprimidos.
Adoro o Natal pela 1ª coisa que faço, todos os anos, quando acordo na manhã do dia 25 de Dezembro: comer uma rabanada em jejum, seguindo-se 3 goles de Coca-Cola, ainda com a boca a parecer uma folha de papel cavalinho, devido aos doces que se comeram até tão tarde, na véspera.
Adoro o Natal pelos jantares que se fazem, que nunca se fazem, e por aqueles que só se farão lá para Janeiro ou Fevereiro… com sorte! E gosto também das prendas intrépidas para o “Amigo Oculto” que acabam por tornar estas ocasiões ainda mais divertidas, dado o baixo valor orçamental acordado. E já dei e recebi de tudo: latas de atum, peças de fruta, lixo nuclear, autocolantes, etc…
Adoro o Natal pela música. Esta é uma época em que ponho de lado a minha faceta mais tendenciosa no que concerne ao ouvido. Os clássicos são os meus preferidos: ”Holy Night”; “Jingle Bells”; “Rockin’ Around the Christmas Tree”; “Rudolph the Red Nosed Reindeer”; “We Wish You a Merry Christmas”; “Let it Snow”; “The Twelve Days of Christmas”. Depois há também aquelas músicas que sempre fizeram parte do repertório das festas de Natal da escolinha e que adocicam com um toque de nostalgia esta quadra: “Noite Feliz”; “Pinheirinho”; “Glória”; “A Todos um Bom Natal”; “Alegrem-se os Céus e a Terra”. E finalmente as músicas mais pop/rock, onde há até um lugar para as britneys, as mariahs e as celines, porque mesmo elas merecem celebrar esta ocasião: “Feed the World”; “All I Want For Christmas Is You”; “So This is Christmas”.
Adoro o Natal pelas crianças! Tenho memória de todos os Natais terem sido passados com estas pessoas pequeninas que conservam acesa a chama do espírito de Natal e firme a vontade de manter todas as crenças. Vibro com a ansiedade dos mais novos que perguntam, de cinco em cinco minutos, “Ainda falta muito para o Pai Natal chegar?”, ainda que não tenhamos acabado de jantar. Tenho palpitações ao antever as reacções aos presentes que vão receber, sabendo que alguns saboreiam mais o ritual da sua entrega individual (ao mesmo tempo que reconhecem traços familiares naquela figura mítica de barriga tão proeminentemente almofadada), do que propriamente a sua fruição. Os seus sorrisos, a sua excitação e a sua alegria são, decididamente, um dos ingredientes fundamentais para que continue a acreditar no Natal.
E adoro o Natal por todas as recordações que fui guardando ao longo destes 28 anos:
- a noite passada a cantar e a receber moedas, imediatamente depositadas no meu mealheiro do Snoppy, que seriam, dias mais tarde, religiosamente distribuídas pelos pobrezinhos espalhados pelo centro da cidade (quando a verdadeira pobrezinha era eu, que ganhava dinheiro a cantar com apenas 2 ou 3 anos, com o consentimento dos pais e familiares);
- a surpresa e o orgulho de, ao chegar a minha casa depois das festas, ver que o velhinho barrigudo também por ali tinha passado, porque naquele ano tinha-me portado realmente bem e merecia receber prendas em dois lugares diferentes;
- a abertura de algumas prendas antes do dia, depois de me deixar corroer totalmente pela curiosidade, acreditando sempre que os meus pais não notariam, mesmo quando, ao descolar, a fita-cola trouxesse agarrada a si um “Feliz N”;
- a coincidência do Pai Natal chegar sempre no momento em que nos mandavam brincar na sala, enquanto a minha avó varria a cozinha (onde estava a grande lareira que aquecia os nossos Natais e por onde desciam todos os presentes), sem que alguma vez lá se tivesse queimado;
- a felicidade das minhas pupilas gustativas no momento em que recebia “O” bonequinho cor-de-rosa e transparente cheio de ovinhos “kinder choco bons”, ano após ano;
- as barrigadas de risos que tínhamos de abafar, quando ficávamos com os primos a jogar “Pictionary” pela noite dentro, porque um só traço não pode, nunca, querer ilustrar um foguetão, e um círculo jamais será o rato Mickey;
- o sacrifício de comer duas lascas de bacalhau cozido, um quarto de batata “pequena, mãe, quero uma pequenina” e um ovo, só conseguido tendo em mente as rabanadas, as prendas e o Pai Natal, juntamente com o Menino Jesus, todos a olharem para mim.
Enfim… Tantos e tão bons momentos que têm de ser perpetuados na minha memória para que continue a acreditar, e sempre com a mesma intensidade, na magia do Natal!
E isso é o que mais importa nesta altura: conservar os ícones e as lembranças que transformam o Natal numa época mágica, em que queremos reunir todos os que amamos e dar um bocadinho de nós a todas as pessoas que precisam, mantendo este sentimento pelo maior período de tempo possível. E é também por este motivo que mantenho à vista, durante todo o ano, um presépio: para me recordar que “O Natal é quando o Homem quer”.
Feliz Natal!
Então, por todas as razões que enumeraste e mais algumas, desejo que esta seja mais uma fantástica época natalícia!! :)
ResponderEliminarFeliz Natal!!!
Beijo