Hoje estou aqui para eternizar um momento que já não acontecia há quase 10 anos.
Não tenho por hábito (querer) vestir
uma personagem que não a minha, mas tenho que confessar que, secretamente,
todos os anos penso em como seria engraçado e simultaneamente rejuvenescedor, por breves horas que fossem,
despir a minha rotina e fingir ser uma pessoa completamente diferente. Não teria
de vestir a pele de uma rainha, de uma guerreira, nem tão pouco de uma religiosa. Também não
procuraria a fama, nem o reconhecimento, nem mesmo a riqueza. Nada disso.
Gostaria apenas de ser, por um dia, diferente! Por isso mesmo decidi
fantasiar-me este Carnaval.
A escolha da indumentária foi um processo difícil. Sem qualquer ideia
e à bom português, deixei para o último momento a aquisição da personagem. Gostava muito de me mascarar de recibo verde, mas nunca tive muito jeito para os trabalhos manuais, por isso decidimos
optar por um disfarce igual para todos. Porém, encontrar o macacão revelou-se numa
tarefa impossível para mim, pelo que a fantasia de mineiro chileno ficou de
lado. Decidi então ir a uma daquelas megalojas asiáticas que vendem de tudo a preços
baixíssimos (ostentando um nome português para disfarçar a origem e evitar o preconceito). E quando digo “de tudo”, quero mesmo dizer “de tudo”: entre flores
artificiais, candeeiros, champôs, brinquedos, velas perfumadas, batatas fritas
e casacos de pele, encontrei uma secção completamente dedicada à causa
carnavalesca. Só teria de optar entre comprar a fatiota completa ou levar os adereços
combinados por mim. Como seria de esperar, pelo adiantar da hora e pelos preços
praticados, só havia tamanhos XXS disponíveis. Além disso, uma polícia de mini-saia,
uma odalisca coberta com lenços transparentes ou uma freira a exibir uma liga de renda encarnada não
se compadeciam com os meus objectivos de “gaija digna”, nem com as temperaturas
que se esperavam. Então passei à combinação de várias peças.

Mas voltando aos disfarces, como estas máscaras são insuportavelmente quentes e como mal se respira ali dentro, tive de pôr toda a devoção (?!) por este senhor de lado e lá levei só uma carapinha preta (que agora que penso nisso podia bem ser daquele cantor, mas na altura dos Jackson 5) e mais 2 ou 3 acessórios que não deixassem este dia "em branco", por menos de 8€. Que fartote!
Mas gostei muito desta noite, sim
senhora! Entre os disfarces que passaram por mim e que mais me chamaram a
atenção, destaco aqui as personagens da “Alice no País das Maravilhas”, com
maquilhagens dignas dos filmes do Tim Burton. Assim é que eu gostava de passar o
Carnaval e tenho a certeza que não ia haver vergonha nenhuma que se apossasse
de mim nessa noite. Também gostei muito de um Shrek que vi logo no início da
noite, com uma produção fantástica, de um exército de romanos que mais parecia
terem ido roubar o guarda-roupa a um museu e, claro, do meu quarteto fantástico matumbinó-tiburciano e dos meus amigos mineiros
chilenos (que passaram um mau bocado quando uma transeunte chilena se cruzou nos
seus caminhos e reconheceu a bandeira que traziam às costas, qual capa de um
super-heroi, sobre o macacão, o arnês, o filtro e o capacete, sem esquecer a
lanterna). Para trás ficaram os conjuntos de cartas e de dominós, as chinesas e
as indianas, as loiras burras e os burros loiros, os travestis assumidos e os “machos” que aguardaram ansiosamente por este dia para trazerem à tona a mulher que têm dentro
de si. E o auge da festarola surgiu quando a rua foi invadida por uma corrente de
tambores, megafones, tubas e trombones e por uma enchente de gente infectada
por uma alegria contagiante a dançar, a cantar, a pular e a arrastar consigo
mais povo, e mais alegria e mais Carnaval.
É pena a idade não dar para mais e para ter visto mais coisas e para contar aqui tudo isso porque, como a minha
metade boa disse, havia muito tempo que não me via assim tão entusiasmada!
Adorei!
ResponderEliminarBeijinhos :)