"O Pensador" - Auguste Rodin |
segunda-feira, 9 de maio de 2011
Originalidade
"A originalidade não reside em dizer o que
ninguém antes afirmou, mas sim em dizer exactamente o que pensamos." -
James Stephen.
quarta-feira, 4 de maio de 2011
Apocalipse Now
3ª Feira: não tão má como a 2ª, mas razoavelmente longe do final da semana para ainda não soar a descanso. Depois de um dia de trabalho, de uma penosa ida ao ginásio, de tirar roupa da máquina, de tirar a roupa do estendal, de encher com roupa a máquina e de colocar no estendal outra roupa, nada como um bom filme para restabelecer os níveis energéticos e fazer o “ESC” dos problemas do trabalho. Deixo a minha metade boa encarregue da selecção da fita cinematográfica, impedindo, desta feita, que a minha opção o faça adormecer ainda antes de aparecer o título do filme. E aguardo com a calma do costume pelas cenas de violência gratuita, de carros e prédios a explodirem, meteoros a bombardear o planeta, cyborgues a quererem controlar o mundo, e outras que tais às quais já adquiri imunidade e que me fazem sempre sucumbir à sonolência. Para me convencer de que não era necessário criticar a sua opção, saiu-se com um “Foste tu que me disseste para pôr a gravar… naquele dia, lembras-te? Naquele dia… à tarde… em que tínhamos a casa cheia de gente e tu… andavas muito ocupada a fazer coisas boas para o lanche, como… bolachas com pimenta. Lembras-te?” Efectivamente lembrava-me dos scones em que, acidentalmente, foi adicionado pimenta em vez de sal. E ele serviu-se do facto de nesse dia a frequência dele ser FM e a minha AM, pelo que a desculpa colou. Como seria de esperar, o filme longe estaria de um lindo romance que acabaria com dois velhinhos debaixo de um alpendre a ver o pôr-do-sol enquanto viravam as páginas de um álbum de fotografias queimado pelo tempo e afagado pelo amor que os uniu durante todos aqueles anos. Também não seria nenhuma comédia cuja hilaridade me permitiria pendurar no bengaleiro as minhas inquietudes, não senhor! Do mesmo modo, não iria ser nenhum drama intenso, com poucos efeitos especiais, mas com uma carga psicológica tão forte que nem me deixaria pousar a cabeça no sofá. O filme era sobre, nada mais, nada menos, do que... o APOCALIPSE!!!
Sim, o apocalipse. No dia em que o nosso “primeiro” fecha com o FMI o PEC 4 ½, a escolha ideal será, indubitavelmente, ter diante da nossa 37’’ (televisão, entenda-se) a antevisão disfemista do nosso fim. Como já referi por várias vezes neste blogue, a crise tem-se vindo a alimentar de mim e a roubar bocadinhos do meu ser, todos os dias. E se isso se reflectisse na balança, menos mal, o pior é que nem isso! É uma espécie de parasita da alma (já para não dizer que o é do bolso de todos os portugueses de classe média), que me consome a esperança em que no dia em que for despedida vou ter subsídio de desemprego, a força para remar contra o aumento da retenção na fonte e a vontade de querer sair do buraco escavado na minha conta bancária pelo aumento do IVA. Assim, só me resta ver a coisa como o barquinho a afundar lentamente, qual Titanic, sem que exista um qualquer grpo de violinistas a embalar docemente o nosso desvanecimento.
Ao cabo de cinco minutos após o início do filme, estava já a ligar o computador. Foi mais ou menos naquela parte em que vi a simbólica senhora de idade de andarilho, com a placa dentária impecavelmente branca a combinar com os seus geométricos caracóis alvos, a trepar paredes, a caminhar no tecto e a morder toda e qualquer forma humana que lhe aparecer à frente, com aquele olhar demoníaco que me fez lembrar os pesadelos que tinha em miúda com o “Homem do Saco”. Credo! E pensei “Humm… Não sei bem porquê, mas acho que não vou gostar deste filme. Vou ver se tenho correio”. Entre diapositivos de correntes de azar e filmes de chineses a jogar à bola com binóculos, lá fui dando umas espreitadelas àquele suplício, na tentativa de lhe dar uma segunda hipótese (e uma terceira, e uma quarta, e uma quinta). Mas tenho que reconhecer que vendedores de gelados com serras no lugar de dentes, feitos homens-elástico para apanharem as pessoas, exércitos de zombies e homens crucificados de cabeça para baixo, com o corpo coberto de bolhas prestes a explodir um ácido ultra corrosivo, não são exactamente aquilo que faria o meu dia um pouco menos enfadonho.
A certa altura pensei que
entre assistir àquele cataclismo fantasmagórico e à abordagem feita pelo
António Costa do Diário Económico às medidas de recuperação impostas pela
Troika, que viesse o diabo e que escolhesse a minha direcção. E veio o Diabo e
escolheu a crise.
Continuo sem perceber qual dos dois me provocou mais pesadelos esta noite.
Para os mais curiosos, fica aqui o link para o trailer do filme. Quanto ao resto, é só ver as notícias, ouvir a rádio, ir ao supermercado, andar de autocarro, encontrar um vizinho no elevador, tomar café no emprego, ...
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