Este grãozinho de arroz caiu do meu céu na
passada 5ª feira. Engane-se quem achar que isto é uma montagem, porque não o é.
Trata-se de um monumento, de seu nome "Broken Chair", e foi
construído para sensibilizar as nações para a problemática das minas anti-pessoais.
Enverga uma estrutura com 5,5 toneladas de madeira com 12 metros de altura.
Como não podia deixar de ser, esta peça
despertou em mim um enorme interesse. Para além de toda a carga humanitária que
suporta (o que merece todo meu respeito e consideração), foi fabricada num
material muito nobre e extremamente familiar para mim. Mas quando comecei a
examinar com cuidado a peça, esta transformou-se na analogia perfeita da situação
actual da nossa língua materna, acrescentando a isso o facto de estar cansada de ver a palavra "DIRETO" escrita no canto superior esquerdo da televisão.
Não sou especialista em linguística (nem
de longe, nem de perto), mas as alterações promovidas pelo novo acordo
ortográfico fazem-me sentir como se estivesse sentada nesta cadeira: sei que,
pela forma como foi construída, não irá tombar, mas sinto uma relutância
natural em utilizá-la. A perna partida simboliza, para mim, as regras ortográficas
que nos acompanharam durante tantos anos e que simplesmente se pulverizaram,
alvos também elas de um qualquer engenho explosivo. Foram normas que se
sentaram comigo no banco da escola, quando insistia em deixá-las em casa, mas
que cedo se tornaram peças fundamentais para a entender como uma língua tão
rica, tão completa!
Este novo acordo privilegia a fonética e a unificação da língua, em detrimento da gramática e da semântica, fazendo-nos crer que a chave para o sucesso do intercâmbio entre países lusófonos assenta única e exclusivamente na ortografia. ERRADO! As diferenças são muito mais do que isso. Não adianta nada andar aqui a explodir com as letras, com os hífenes e com os acentos, se o conteúdo permanecer vazio de sentido para os olhos de quem lê, porque cada povo dá o seu próprio valor e significado às palavras.
Este novo acordo privilegia a fonética e a unificação da língua, em detrimento da gramática e da semântica, fazendo-nos crer que a chave para o sucesso do intercâmbio entre países lusófonos assenta única e exclusivamente na ortografia. ERRADO! As diferenças são muito mais do que isso. Não adianta nada andar aqui a explodir com as letras, com os hífenes e com os acentos, se o conteúdo permanecer vazio de sentido para os olhos de quem lê, porque cada povo dá o seu próprio valor e significado às palavras.
Não quero dizer que existe português de
primeira e português de segunda, mas na minha muito pouco modesta opinião, talvez
o melhor remédio para quem considerar que estas regras só existem para perturbar
e confundir, seja optar por continuar iletrado e ignorante. Um dia destes, a
álgebra básica é excluída da aprendizagem escolar porque todos temos máquinas
de calcular de merceeiro, sendo uma total perda de tempo desenvolvermos o nosso
raciocínio com exercícios tão inúteis e desnecessários, quando podemos vegetar à
frente de um filme de adolescentes e de uma luta livre americana...
Francamente!
Sem querer padecer de uma pretensão exageradamente
patriótica, já que apresentamos como cartão-de-visita o rendilhado estilo
manuelino, o complexo dedilhar da guitarra portuguesa e as intrincadas rendas
de bilros, porque é que nos manifestamos tão complacentes no momento de “vender”
a riqueza da nossa língua? Por que é que aceitamos um “acordo” que não é, nem
pode ser, “acordado” por quem realmente utiliza a língua, como os escritores, os
jornalistas e os professores? Porque é que quem manda nestas coisas são os
políticos, os académicos e os sociólogos? Porque é que aceitamos esta vingança retardada
de um neocolonialismo político, que aniquila de modo tão consentido uma das
derradeiras marcas da nossa cultura? Porque é que pisamos estas minas sabendo
que nos vão explodir os pés e acabar com a nossa identidade cultural? Melhor
seria, de uma vez por todas, “chamar os bois pelos nomes” e começar a vender dicionários
de Língua Brasileira! E já agora, porque não começar a chamar às nossas
crianças Waldemar e Yolanda? E se até os brasileiros se queixam da inutilidade
deste acordo, porquê mantê-lo? Já para não falar dos PALOP que estão a ver
este “trem” passar muuuuuito ao lado! Esta é mais uma daquelas coisas que,
sinceramente, ultrapassam os meus cabelos loiros…
Para quem tem uma formação como a minha, sabe que o betão tem muito menor
resistência sem os varões de aço e que, na realidade, cadeiras de 3 pernas só
existem como obras de arte, por isso deixem-me aproveitar até 2015 enquanto
estas minas “anti-linguísticas” não acabam com o que resta da minha herança
cultural porque, a partir daí, a iletrada sou eu!