quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

OK - Código - OK

Sou uma daquelas pessoas que ficam fulas da vida quando lhes querem dar a volta para comprar algo de que não precisam. Sempre que me começam a vender a banha da cobra, embrulhada no mais fino chiffon de seda, e me obrigam a decidir, na hora, se quero ou não aderir ao clube dos tansos, começa a passar-me uma luz branca à frente dos olhos. Depois a vista fica turva, seguidamente com picos e finalmente apodera-se de mim uma vontade incontrolável de utilizar a radiação ultravioleta, que entretanto foi gerada pelo nervo óptico, e fulminar o “vigário” que está à minha frente. Por isso, nunca comprei nenhum colchão que trouxesse, como oferta, um trem de cozinha, um equipamento de limpeza a vapor, um serviço de jantar “cozinha velha” de 99 peças, um faqueiro banhado a ouro de 1 quilate e meio, uma máquina de cozer ovos, uma máquina de passar a ferro sentada, uma máquina de aparar os pelos do nariz, e outros que tais que, por vezes, nem se sabe muito bem qual a sua utilização e importância. Por tudo isto, o discurso do “Por se tratar de uma promoção que termina hoje, tem de decidir agora, senão não terá direito às ofertas” não cola e saio sempre muito orgulhosa por não ter sucumbido ao delírio de um consumismo desenfreado, estimulado por técnicas de extorsão já gastas mas, ainda assim, sempre tão eficazes.

O meu problema é outro. Por exemplo, não consigo ir ao cabeleireiro sem trazer de lá qualquer coisa! E mesmo que ainda tenha uma caixa daquelas ampolas que evitam que o couro cabeludo desidrate com o stress do quotidiano,  com o frio e com os secadores, lá levo debaixo do braço um champô-leite hidratante para pelas ultra-sensíveis. E se vou à loja, é a mesma coisa: vou destinada a comprar apenas o champô e saio de lá com a máscara e o serum que têm, obrigatoriamente, de ser utilizados em simultâneo, não vá ficar careca. Já que lá estou, aproveito para trazer um verniz novo - que na verdade só é 1/8 de tom acima do último que tinha levado - e mais uma espuma de cabelo, desta vez para acabar com o demodé efeito molhado, conferindo um aspecto, sem qualquer sombra de dúvida, muito mais natural - tão natural, que nem parece que levou espuma nenhuma. Mas podia ser pior! A uns dá para a roupa, para os jogos de computador ou para o futebol. A mim dá-me para os champôs, para os cremes, para as maquilhagens e tudo o resto que tenha a ver com o bem-estar da pele, do cabelo e do corpo! Para isto e para as compras do supermercado! Mas isso é outra conversa… (Não sei porquê, mas de repente fiquei com a sensação de que, com estas palavras, transmiti uma ideia de futilidade extraordinariamente desenquadrada da actual conjuntura… Não é nada disso! Passo a explicar. Vou raríssimas vezes às compras. O problema é não utilizar as coisas que entretanto vou adquirindo…)

Referindo-me finalmente ao grão de arroz que caiu esta 2ª feira (juntamente com o temporal que assolou o país), passo a concretizar o motivo pelo qual hoje aqui estou. Depois de estudar as várias ofertas de ginásios, de ter resistido ao “para não pagar a jóia tem de se inscrever, impreterivelmente, hoje” e de ter feito uma tabela em EXCEL com as mensalidades, distâncias e vantagens e desvantagens da coisa, lá decidi inscrever-me num ginásio que fica…  “do outro lado da ponte”. Calma! Desta vez tem a sua lógica: posso frequentar um que existe perto do meu palácio, que pertence ao mesmo grupo. E lá fui eu ontem, debaixo da chuva, no meio do trânsito, para a “longínqua cidade em que eu não trabalho nem vivo”, a pensar que ia fazer uma avaliação física, de forma a tornar o meu treino mais eficiente. Surpresa das surpresas, afinal queriam fazer-me uma avaliação de SPA. Avaliação de SPA?? Estão a gozar comigo? A um dia 14 de Fevereiro? Com esta chuva e este trânsito? Aiiiii!!! Lá vem a luzinha branca outra vez... Enquanto aguardava pela terapeuta, consegui controlar a fúria e comecei a ensaiar em silêncio o discurso de alguém que “de modo algum me vão apanhar nesta, nem que vendam creme de baba de caracol”:
    mad0233 Free Emoticons   Anger
  1. Desculpe, mas vou-me embora”;
  2. É inadmissível que eu tenha ligado para cá à hora do almoço a perguntar se era uma avaliação física e me tenham confirmado essa informação”;
  3. Esta atitude só mostra uma enorme falta de profissionalismo da vossa parte”;
  4. Chamarem uma pessoa cá ao engano para lhe venderem depilações, manicures e massagens…”.
Lá chegou a terapeuta e eu, ceguinha, ceguinha, entre olhos arregalados e tentativas para não me cuspir e espumar toda com a raiva, lá mostrei o meu desagrado (à excepção da parte das depilações e das unhas, claro, porque até nestas ocasiões é preciso manter o nível!).

Conclusão: comprei uma "Massagem de Pedras Quentes" para a minha metade boa… Coitadinho! Só fiz isso porque ele merece e um perfuminho parecia-me tão pouco! Até me fez um jantar romântico com massa filo em forma de corações, com entrada, prato principal e sobremesa! E acendeu, ao contrário dos seus princípios, velas! E das vermelhas! Merecia uma prendinha EXTRA, pela EXTRema dedicação e EXTRAordinário empenho! Ainda por cima a massagem está naquela lista das poucas coisas que compro, como os champôs e os cremes, uma vez que é em prol do bem-estar do corpo e da alma. Até devia dar para por no IRS, em despesas de saúde. Foi só por isso que me permiti  “ter sucumbido ao delírio de um consumismo desenfreado” e me deixei levar pelas “técnicas de extorsão já gastas”… Por isso e por uma massagem terapêutica que as minhas costas receberam como "incentivo" à compra!



2 comentários:

  1. Então... a conclusão é que compensa ludibriar uma pessoa porque sempre se vende alguma coisinha?

    ResponderEliminar
  2. o título deste post foi uma das PIORES invenções de todos os tempos!! torna completamente banal o que poderia ser um drama!! isso e as "técnicas de extorsão já gastas" que, infelizmente, continuam a surtir efeito em mim... :(
    passando à frente os episódios de ira explosiva, acho que fizeste muito bem em mimar a tua metade boa, porque "amor com amor se paga!" :)

    ResponderEliminar